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Enigmas pedagógicos do Cordeiro Pascal

“Não comereis dele nada cru, nem cozido em água, senão assado no fogo, a sua cabeça com os seus pés e com a sua fressura” (Êxodo 12: 9).

A celebração da Páscoa é um dos eventos mais tradicionais e espirituais em Israel. Sua origem, simbolismo e tradição são as marcas da saída do povo hebreu do Egito, após as dez milagrosas pragas que Deus enviou sobre esse povo. Ou seja, a promessa feita a Abraão de que, por meio dele, o Senhor formaria uma grande e forte nação, e que todos haveriam de temer e tremer diante desse povo, estava se cumprindo com a libertação da escravidão egípcia. O sacrifício do Cordeiro Pascal seria a testemunha fiel desse acontecimento histórico e bíblico.

Por isso, cada família deveria tomar um cordeiro de um ano, sem defeito, e sacrificá-lo ao Senhor. Nada do cordeiro poderia ser comido cru, tampouco cozido em água, mas assado no fogo. O fogo prova o real e o verdadeiro: “O ouro e a prata são provados pelo fogo” (Provérbios 17: 3). Esses membros do cordeiro deveriam ser assados. Quer dizer, não se tratava de um animal místico, frágil, vulnerável, descartável e violável. Mas um cordeiro provado pelo fogo, e que depois de aprovado receberia o selo de qualidade.

Tudo isto nos passa a mensagem de um cordeiro provado e aprovado, testado e pronto para qualquer embate da vida. Veja o leitor que a ordem divina seria para que o povo comesse a cabeça com seus pés e com sua fressura. Seria bom observar que a preposição “com”, que aparece entre estas palavras (cabeça, pés e fressura), funciona como elemento de ligação ou de união entre elas, subordinando uma à outra, sucessivamente, determinando que tudo deveria ser feito simultaneamente, ou seja, em um mesmo momento.

Nada do cordeiro poderia ser desperdiçado. Pelo contrário, o que sobrasse deveria ser queimado: “Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar” (v. 10). A figura desse animal é uma representação (tipologia) do Cordeiro que haveria de nascer milênios mais tarde, com a vinda de Jesus Cristo, o filho do Deus vivo, gerado pelo Espírito Santo; o Filho do Homem, nascido de Maria; o verbo que se fez carne e habitou entre nós (João 1: 1-2). Jesus é o Cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo (João 1: 32).

Portanto, a importância bíblico-histórica da Páscoa para o povo judeu é extensiva a todos os povos, porque o cordeiro, que é o elemento-chave dessa festa judaica, e que aponta para a pessoa de Jesus Cristo, morto para libertar, à semelhança do Cordeiro Pascal, toda a humanidade. Diante desse fato bíblico, precisamos nos atentar para os enigmas que existem no processo de degustação espiritual desses elementos pascais (cabeça, pés e fressura), e que possuem um sentido bíblico-teológico muito forte para nossas vidas.

ENIGMA 1: INTELIGÊNCIA

A primeira parte do cordeiro, assada ao fogo, que deveria ser comida pelo povo, antes de sair do Egito, era a cabeça. Talvez o leitor esteja dizendo: Mas onde já se viu comer cabeça de cordeiro? Parece uma piada de mau gosto! No entanto, Deus estava certo de seus planos para com Israel. Até porque a cabeça é a parte mais importante do corpo, seja do ser humano ou do animal. Quando o texto diz que do cordeiro não poderiam comer nada cru ou cozido ao fogo, isso nos fala de um cordeiro testado e aprovado. De um cordeiro que estava sendo morto como símbolo da libertação do povo hebreu.

Mas qual o mistério em comer a cabeça do cordeiro assada ao fogo? O que isso significa? Vale lembrar que na cabeça está o cérebro, onde estão armazenados todos os comandos do corpo. Cabeça fala de sabedoria e de inteligência. Portanto, o enigma ou mistério em comer a cabeça de cordeiro consiste em receber a inteligência ou a sabedoria dele, (Eclesiastes 2: 14). Quem não come cabeça de cordeiro não tem parte com ele. Paulo afirma que o salvo tem a mente de Cristo (1Coríntios 2: 16). A Bíblia fala que Cristo é a cabeça ou o comando da igreja e nós, os membros.

ENIGMA 2: IDENTIDADE

A segunda parte do cordeiro que o povo deveria comer assada ao fogo eram os pés. Os pés são a fonte e apoio de contato com o chão. Os pés conhecem muito bem o tipo de terra, os declives e aclives, o alto e o baixo e tudo mais. Eles identificam uma pessoa. Ou seja, o jeito de caminhar e de pisar denuncia o tipo de pessoa que passou por determinado lugar. Pedro diz que Jesus deixou-nos exemplo para seguirmos suas pisadas: “Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos” (1Pedro 2: 21). Paulo nos adverte: “Vede prudentemente como andais” (Efésios 5: 15).

Portanto, comer os pés do cordeiro significa identificar-se com ele e buscar sua semelhança. A vida cristã de nada vale sem a identificação com Cristo. Uma das maneiras de se identificar com Jesus é anunciar sua salvação. Por isso, a Bíblia diz: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis a voz dos teus atalaias!” (Isaías 52: 7). Então, se o cristão quer ser parecido com Cristo, precisa, incondicionalmente, estar comprometido com seus ensinos e caráter.

ENIGMA 3: INTIMIDADE

Talvez esta seja a parte do cordeiro mais difícil de comer. Mas se não comermos suas entranhas, que é o conjunto dos órgãos que estão contidos na cavidade do corpo, não temos parte com ele. Isto significa receber seu coração e o sentimento, para gerar um novo amor por Ele. Escrevendo aos filipenses, Paulo diz que o cristão precisa ter o sentimento de Jesus: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Filipenses 2: 5-6). Ou seja, precisamos ter disposição afetiva ou intimidade com tudo que envolve e define o Reino de Deus.

Receber o sentimento de Jesus é receber a capacidade para amar e perdoar o inimigo. E, se não perdoarmos nosso inimigo, como é que vamos entrar no Reino dos céus? O próprio Jesus disse: “Pois, se perdoardes aos homens as suas ofensas, assim também vosso Pai celeste vos perdoará” (Mateus 6: 14). No entanto, o sentimento de Jesus na vida do cristão concede-lhe a capacidade de assentar-se à mesa e comer do pão juntamente com o traidor (Mateus 23: 23). Somente uma vida de intimidade com Jesus para assegurar ao cris tão o senso da humildade, da submissão e honra a Deus e amor ao próximo-irmão.

SALVO PELO CORDEIRO

Um turista que visitava uma igreja na Noruega disse que ficara surpreso ao ver a figura de um cordeiro entalhada próxima do topo da torre da igreja. Ele soube que, quando a igreja estava sendo construída, um operário caiu de um andaime lá no alto. Seus companheiros desceram apressadamente, esperando encontrá-lo morto. Mas, para sua surpresa e alegria, ele estava vivo e com ferimentos leves. Como sobreviveu? Um rebanho de ovelhas ia passando debaixo da torre no momento da sua queda. Assim, ele caiu sobre uma das ovelhas, que morreu esmagada instantaneamente, mas ele foi salvo.

Para relembrar aquele livramento miraculoso, alguém teve a ideia de entalhar um cordeiro na torre, na altura exata da qual o operário caiu. Você acha que foi uma simples coincidência ou sorte o que aconteceu? Eu diria que foi plano de Deus. Esse acontecimento ofereceu uma ilustração maravilhosa para que muitos pudessem entender o plano de Deus ao enviar Jesus ao mundo. João Batista descreveu Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

O apóstolo Pedro afirmou que todo o peso de nossos pecados caiu sobre Jesus (I Pedro2:24). E o apóstolo Paulo explicou: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Coríntios 5:21) Todos nós caímos em pecado, mas na cruz Jesus sofreu a punição pelos nossos, em nosso lugar. Agora ele oferece vida eterna para todo aquele que nele crê como Salvador (João 3:16). (www.vidanet.org.br).

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