Introdução.

Nas últimas décadas o Brasil experimentou um crescente aumento do número de evangélicos. Em 1940 os evangélicos correspondiam a apenas 2,6% da população brasileira, em 2019, esse número alcançou a casa dos 31% 4. Essa presença evangélica ocupa, na atualidade, espaços geográficos, midiáticos e também parte do cenário político. Essas e outras expressões da presença evangélica podem criar uma falsa ilusão de que o Brasil é um país significativamente evangélico e, por isso, não necessita tanto da plantação de novas igrejas. Esse tipo de pensamento é um equívoco.

Em primeiro lugar, porque em 2010 ainda existiam muitos municípios com até 5% de evangélicos (309 municípios, conforme o censo de 2010 do IBGE) 5. Em segundo lugar, porque existem muitas realidades de povos e lugares considerados menos alcançados, chamados de povos minoritários do Brasil, dos quais são: ciganos, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, sertanejos, imigrantes, refugiados, surdos-mudos etc. Entre o povo sertanejo, por exemplo, os evangélicos eram em 2010 apenas 11,23% da população e com a estimativa de cerca de seis mil povoados sem a presença evangélica 7. Em quarto, porque nem todo movimento missionário ou de crescimento de igrejas são realmente saudáveis do ponto de vista bíblico-teológico e missional. E, em quinto, porque nem toda igreja é agente de
transformação do seu contexto local e suas realidades, numa perspectiva integral e sustentável.

Sendo assim, torna-se fundamental pensar na plantação de novas igrejas transformadoras, no Brasil de hoje e para o Brasil de amanhã, considerando as tendências da direção da sociedade do mundo pós-covid, a começar pelas seguintes reflexões: Que igreja do futuro precisa ser plantada? Que princípios poderiam compor o DNA desta nova igreja transformadora a ser plantada? Que igreja pode responder, num caminho de missão, aos seios e necessidades bíblicas da sociedade contemporânea? Essas e outras questões foram objetos de estudo e pesquisa para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do Mestrado Profissional em Teologia da FTSA (Faculdade Teológica Sul Americana) e parte desses resultados serão apresentados a seguir em três temáticas: o conceito de igreja transformadora, a plantação de igrejas e os princípios para a plantação da igreja transformadora hoje.

O conceito de igreja transformadora

Conceituar igreja deve preceder a sua plantação. Uma vez que toda e qualquer igreja local deve ser o fruto da remissão de Cristo de pessoas numa determinada cultura, num contexto específico (tempo e espaço). Muito provavelmente, a igreja será, em suas características pessoais, uma comunidade do reino de Deus com traços culturais locais. Sendo assim, o mundo pós-pandêmico é uma ótima oportunidade para se reafirmar o conceito de igreja enquanto povo de Deus. Até porque, durante a pandemia, muitos templos de igrejas foram fechados, criando assim um desafio enorme para os cristãos com modelos
de igrejas mais centrados no templo. Os templos fecharam, a igreja não.

É muito comum entre os cristãos chamar de igreja o prédio ou local de realização fixa dos cultos. Segundo Stetzer e Queiroz (2017, p. 43), “[…] muitos cristãos ainda acham que o prédio em que a Igreja se reúne é mais importante que as pessoas”. A igreja é um conjunto de pessoas e não um lugar. A igreja é um ser social, coletivo, é um povo, a família de Deus que representa a trindade divina (outro coletivo) e o próprio corpo de Cristo na terra (cf. 1 Co 12.27). Lidório (2018, p. 90), define uma igreja local como “Um grupo de pessoas transformadas pelo evangelho, comprometidas com Deus e umas com as outras por meio da obediência a Cristo e expressando os essenciais de uma comunidade cristã (At 2.42-47)”. Portanto, retornar à origem ontológica da igreja de Cristo enquanto povo é um exercício válido e necessário na contemporaneidade.

Para Erickson (2015, p. 632), “A palavra igreja e termos similares em outras línguas (por exemplo, Kirche) são derivados da palavra grega κυριακός (kuriakos), ‘que pertence ao Senhor’. No entanto, deve ser entendida à luz do termo do Novo Testamento ἐκκλησία (ekklesia)”. Ou seja, a igreja é um povo que pertence ao Senhor e que está descrita no Novo Testamento como agência de Deus na terra. A igreja é um povo chamado por Deus, para Deus e a partir de Deus. A igreja é um povo chamado do mundo para Deus (santificação) e de Deus para o mundo (missão).

Alguns teólogos vão além e conceituam a igreja como sendo não apenas o conjunto de pessoas, mas uma comunidade. De acordo com Grudem (2010, p. 143), “A igreja é a comunidade de todos os verdadeiros crentes de todos os tempos”. Em outras palavras a igreja é uma comunidade de fé a serviço do reino de Deus e Sua missão. No entanto, como definir uma igreja como sendo transformadora? O que significa esse adjetivo? A palavra transformação vem do latim “transformatio.onis” que significa de forma geral “Qualquer tipo de alteração que modifica ou dá uma nova forma […]” ou ainda, “Mudança de uma forma em outra […]” 8. Segundo Stetzer e Queiroz (2017, p. 25) “Os cristãos valorizam o conceito de ‘transformação’ porque mudança radical é algo que está no cerne da mensagem cristã e porque o poder do evangelho muda tudo – vidas, igrejas e comunidades”.

Muzio (2010, p. 51) também afirma que a igreja tem um imenso potencial transformador e que é “[…] o último e talvez único guardião da verdadeira transformação integral da humanidade, pois carrega consigo o evangelho e a missão de discipular as nações (cf. Mateus 28.19,20)”. Essa afirmação de Muzio é verdadeira. Em primeiro lugar, porque os governos estão mais preocupados com a conquista e manutenção do poder do que qualquer outra coisa, as empresas com a maximização do lucro, acumulo e reprodução do capital e parte do terceiro setor contaminado pela corrupção. Em segundo lugar, porque somente a igreja do evangelho do reino de Deus tem capacidade de apontar ao ser humano a solução e salvação numa perspectiva de transformação integral.

A primeira dimensão da transformação integral de uma comunidade, cidade ou nação, começa no indivíduo (BARRO, 2013, p. 262). Na sua cosmovisão, seus pensamentos, sua espiritualidade. Depois passa para a moldar o seu comportamento, estilo de vida e vocação. A segunda dimensão da transformação integral está na esfera social. Uma mudança significativa nos símbolos, linguagem e estruturas. O ser humano transformado pelo evangelho do reino precisa enxergar o outro como seu próximo (cf. Lc 10.25-37) e amá-lo como a si mesmo (cf. Mc 12.31). A terceira dimensão é a transformação ambiental. A transformação pessoal que um indivíduo experimenta deve conduzi-lo e despertá-lo à uma postura diferente em relação ao cuidado para com a criação. Mais consciente, sensível e proativo diante da preservação e conservação do planeta.

Logo, igrejas que contribuam para a transformação espiritual, socioeconômica e ecológica de vidas, famílias, culturas e sociedades, precisam ser plantadas com intencionalidade. Para isso, um estudo bibliográfico sobre a teoria e prática de plantação de igrejas deve ser desenvolvido a partir de uma hermenêutica missional, integral e sustentável.

A plantação de igrejas

A palavra plantar igrejas é emprestada da agricultura. A metáfora ou analogia se baseia no fato de que iniciar uma igreja exige preparo, planejamento, conhecimento, muito esforço, respeitar o tempo, processos e etapas. Segundo Keller (apud DUARTE, 2011, p. 39), “[…] a plantação de uma nova igreja é um processo no qual existem estágios a serem desenvolvidos […]”. A utilização da expressão plantar igrejas é algo recente no campo da teologia prática (GESSNER, 2010, pp. 74-75). Essa definição diferencia o processo de iniciar e desenvolver uma igreja até que ela caminhe de maneira independente, com o ato de simplesmente se abrir uma igreja que basicamente se resume na atitude de alugar ou construir um local e realizar cultos conversionistas. Conforme Stork e Düque (2020, p. 188), “Quando
se fala em plantar igrejas, não se está falando de construção de templos, mas de criar comunidades de salvos por Jesus Cristo, que O tem como Senhor de suas vidas”. A plantação de uma igreja vai desde o processo de oração, pesquisa do contexto e execução de um projeto até a formação de líderes locais.

Muitas tentativas de aberturas de igrejas falham por que não consideram a complexidade do processo. Isso acontece também por outros motivos como o retorno precoce, a falta de paciência, estabilidade emocional ou perseverança, ausência de capacitação ou acompanhamento adequado, incompatibilidade de perfil/lugar, problemas de caráter, insegurança e medo, e até motivações erradas. A verdade é que tudo que se apenas abre pode ser um dia fechado, mas do que se foi plantado, colhe-se frutos. Quando um trabalho missionário de abertura de igrejas é interrompido, perde-se tempo, recursos e até pessoas, que se frustram pelo insucesso da missão. A plantação de uma igreja não pode ser tratada como um jogo de loteria, pelo contrário, deve ser levada muito a sério, afinal é a melhor estratégia para o cumprimento da grande comissão (MUZIO, 2010, p. 56). Então, como definir a plantação de igrejas

Plantar igrejas é a multiplicação de novas comunidades cristãs em uma determinada cultura. Segundo Duarte (2011, p. 39), “De forma geral, é possível afirmar que plantação de igrejas é a multiplicação de igrejas locais, no cumprimento da Grande Comissão”. De acordo com Pontes (2014, p. 01), “[…] a Plantação de Igrejas se constitui num processo de multiplicação de cristãos/ãs através do evangelismo e discipulado, formando comunidades do Reino de Deus que se reproduzem naturalmente e intencionalmente”.

Sendo assim, plantar uma igreja é respeitar um processo e oportunizar o nascimento de uma nova comunidade de fé formada pelos discípulos de Jesus que adora a Deus, ama e serve pessoas a tal ponto de ser agente de transformação, pelo evangelho do reino, de indivíduos, famílias e realidades socioculturais. Todavia, esse processo possui um elemento muito importante, que é a pessoa que planta, o plantador. Deus usa pessoas para o cumprimento da sua vontade. Na plantação de igrejas também é assim. Deus separa pessoas para se envolver ministerialmente com a plantação de igrejas.

O Senhor Jesus é o melhor exemplo de um plantador de igreja, pois afirmou: “[…] edificarei a minha igreja” (Mt 16.18, NAA 9). Paulo também foi um plantador de igrejas. Escrevendo aos coríntios disse: “Eu plantei […]” (1 Co 3.6, NAA). Com isso, pode-se afirmar que o termo plantador de igrejas é bíblico. Para Lidório (2018, p. 90), um plantador de igrejas é “Uma pessoa que, dirigida pelo Senhor, intencionalmente facilita a formação de igrejas locais”. No entanto, achar que qualquer pessoa pode plantar uma igreja é um erro ministerial. Conforme Stetzer (2015, p. 112), “A tarefa da plantação de igrejas requer pessoas com habilidades especiais”. Essas habilidades especiais estão referendadas por uma postura de
coração que aponta para três coisas: convicção do chamado, compromisso e santidade
(LIDÓRIO, 2018, pp. 133-134).

Mesmo debaixo de oração e direção do Espírito Santo, não basta ter a pessoa certa, também é importante se pensar no modelo de trabalho para a plantação da igreja. Um dos modelos interessantes é o trabalho em equipe. Segundo Mesquita (2011, p.84), o modelo de trabalho em equipe é bíblico e foi utilizado por várias pessoas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, “Seja lá em Moisés, em Davi, com o próprio Jesus ou com Paulo, sempre houve o envolvimento de alguém. É assim que se faz a obra de Deus: em conjunto”. Para Stetzer (2015, p. 98), “O método [em equipe] permite o companheirismo, a complementação de dons e uma base de liderança forte”. De acordo com Muzio (2010, p. 272), “A probabilidade de crescimento e sobrevivência de uma igreja plantada com equipes saudáveis e bem organizadas é muito maior do que aquelas que nascem com líderes solitários, desacompanhados, sem equipes, sem parceiros”. As igrejas que são plantadas por obreiros solitários tendem a demorar mais e a desgastar com o tempo o plantador e sua família. Igrejas que são plantadas em equipe podem distribuir mais facilmente os ministérios específicos e aproveitar melhor os dons e talentos das pessoas da equipe.

Mas, não basta ter uma pessoa certa e um bom modelo de trabalho em equipe, também é preciso enxergar a plantação como um processo e cumprir as suas etapas. Há dois ciclos importantes apresentados como um processo de plantação. O primeiro é a metáfora do nascimento de uma pessoa. Segundo Muzio (2010, p. 232) a trilha de um processo de plantação seria como o nascimento e crescimento de alguém em cinco fases: 1) planejamento dos pais (aprovação e motivação); 2) concepção (planejamento inicial e formação de equipe); 3) desenvolvimento pré-natal (pesquisando e definindo propósitos); 4) nascimento e infância (evangelismo, discipulado e celebração pública); 5) adolescência (crescimento ministerial), vida adulta e paternidade (maturidade e reprodução). Para Lidório (2018, p. 112) existem seis principais fases de um processo de plantação de uma igreja: 1 – relacionamento, 2 – evangelização, 3 – discipulado, 4 – ajuntamento, 5 – treinamento, e 6 – multiplicação. Identificar e acompanhar cada fase ou etapa da plantação de uma igreja torna o processo mais visível, corrigível, mensurável e, portanto, mais eficiente e viável.

Entender o conceito de igreja transformadora e alguns elementos básicos do conceito de plantação de igrejas é fundamental. Mas como plantar uma igreja transformadora em tempos pós-pandemia? Que princípios norteadores podem contribuir para o DNA dessa igreja do futuro a ser plantada na contemporaneidade?

Princípios para a plantação de igrejas hoje

Há pelo menos cinco princípios norteadores que podem contribuir para o DNA de uma igreja transformadora para a sociedade contemporânea. O primeiro deles é o princípio da contextualidade. Uma igreja transformadora deve ser uma igreja contextualizada. Nicholls (2013, p. 27) destaca que a contextualização “[…] é a capacidade de responder demodo relevante ao evangelho dentro do cenário em que a própria pessoa se encontra”.

Segundo Hiebert existem três passos para a contextualização: 1º) A fenomenologia – estudar a cultura (língua, práticas, costumes etc.) da melhor forma possível; 2º) A ontologia – estudar o que a Bíblia diz sobre essa cultura, suas atitudes e comportamentos; e 3º) A missiologia – introduzir o evangelho na cultura local sem perder a sua essência na expectativa que as pessoas também entendam a Bíblia e filtrem por ela a sua cultura (HIEBERT, 2004, pp. 142-143). Ser uma igreja contextualizada é ser uma igreja que comunica com palavras e ações o evangelho na linguagem própria da cultura local,
fundamentada nas Escrituras a partir de uma teologia bíblica e hermenêutica contextual.

O segundo princípio é o da missionalidade. A missionalidade de uma igreja é sua ação missionária tanto na cultura quanto fora dela e uma não deve excluir a outra. A igreja não pode se esquecer que sua tarefa missionária é tanto para além de suas fronteiras geográficas e culturais, quanto em sua própria cultura e localização. Conforme Barro, […] No modelo tradicional de igreja ela envia missionários, enquanto no modelo da igreja missional ela mesma é enviada” 10. De acordo com Carriker (2018, p. 09), “[…] dizer que uma igreja é missional significa dizer simplesmente que ela exerce sua vocação missionária no contexto em que está inserida”.

Para que uma igreja se torne missional, ou seja plantada com essa missionalidade, deve cumprir um certo processo hermenêutico: 1) analisar o contexto; 2) passar pelas narrativas bíblicas; 3) formular os conceitos teológicos que responda ao contexto e; 4) elaborar as estratégias ministeriais a partir dos conceitos teológicos (CARRIKER, 2018, p. 11). Ser uma igreja missional é cumprir sua vocação missionária perto e longe, na sua própria cultura local, fundamentada nas Escrituras a partir de uma teologia bíblica e hermenêutica missional.

O terceiro princípio é o da própria transformacionalidade. A primeira diferença de uma igreja comum para uma igreja transformacional é a sua intencionalidade. Tudo que faz é proposital para um determinado fim transformador. Segundo Stetzer e Queiroz (2017, p. 32) “Uma igreja transformacional é aquela que se concentra tenazmente na capacidade do evangelho de mudar a vida das pessoas”. A segunda característica dessa transformacionalidade é a sua visão ou essência holística. Uma igreja transformacional olha para o ser humano como um todo, não apenas para sua alma, e não apenas no âmbito da sua individualidade, mas para além dela, em sua vida em sociedade e sua relação com o meio
ambiente em que vive, “A esperança de uma igreja transformacional é ver uma mudança completa de vidas individuais e da cultura como um todo” (STETZER e QUEIROZ, 2017, p. 38).

Para ser uma igreja transformacional é necessário desenvolver sete elementos da de uma metodologia chamada de Teoria do Ciclo Transformacional de Stetzer e Queiroz: 1) Mentalidade missionária; 2) Liderança vibrante; 3) Intencionalidade relacional; 4) Ênfase na oração; 5) Adoração: um ato de amor e devoção a Jesus; 6) Vida comunitária: a conexão de pessoas com pessoas; e 7) Missão: mostrar Jesus por palavras e ações (STETZER e QUEIROZ, 2017, pp. 54-61). Ser uma igreja transformacional é ser uma igreja intencional que transforma sua realidade local, fundamentada nas Escrituras a partir de uma teologia bíblica e hermenêutica transformacional.

O quarto princípio é o da integralidade. Uma igreja transformadora é uma igreja que prega e vive o evangelho integral. Segundo Steuernagel (2009, p. 184) “[…] necessitamos abraçar o evangelho em sua totalidade, em sua integralidade”. Uma igreja conectada com a integralidade da missão de Deus realiza ações transformadoras que valorizam a autonomia e o protagonismo das pessoas na construção de seus próprios caminhos de superação. Em relação ao ser humano, Padilla (2001 apud BARRO, 2013, p. 36), define a missão integral como sendo “[…] a missão orientada à satisfação das necessidades básicas do ser humano, incluindo sua necessidade de Deus, mas também sua necessidade de amor, alimento, teto,
abrigo, saúde física e mental, e sentido de dignidade humana”.

Conforme Barro (2013, pp. 199-258), uma igreja local pode se conectar com a integralidade da missão desenvolvendo quatro tipos de ministérios: 1) compaixão e solidariedade, 2) A justiça do reino, 3) O anúncio como testemunho integral do Evangelho, e 4) O amor ao próximo. Ser uma igreja transformadora é ser uma igreja que se sensibiliza e age em amor, em todas as suas dimensões, por meio de uma espiritualidade encarnacional, fundamentada nas Escrituras a partir de uma teologia bíblica do evangelho integral.

O quinto princípio é o da sustentabilidade. A sustentabilidade aqui refere-se a uma marca de qualidade, está condicionada com a preocupação em relação às três principais dimensões do desenvolvimento sustentável: a social, a econômica e a ambiental. Uma igreja transformadora é uma igreja comprometida com o reino de Deus e o desenvolvimento sustentável em sua comunidade local.

A igreja do presente e muito mais do futuro precisa ser uma igreja preocupada com as questões de justiça social, viabilidade econômica e prudência ecológica. Deus colocou o ser humano no jardim do Éden para lavrar, mas de igual forma também para cuidar, proteger (cf. Gn 2.15). Segundo Proença e Klein (2018, pp. 320-321), existe muita “[…] agressão ao meio ambiente feita por determinados setores produtivos que não respeitam valores éticos de equilíbrio e sustentabilidade dos meios de produção. A derrota da natureza será também a derrota da humanidade”.

É preciso fazer uma releitura bíblica, por exemplo, do pentateuco, dos profetas e dos evangelhos, a partir de uma hermenêutica da sustentabilidade. A humanidade deve assumir seu mandato cultural e a igreja deve ser protagonista dessa práxis missional, assumir sua responsabilidade socioeconômica, ecológica, cultural, política e institucional. Deus criou um mundo sustentável, o ser humano com a sua queda o tornou insustentável, “[…] Deus está sempre interessado no bem-estar da sua criação! Mas nem sempre isso é verdade em relação à igreja. A agenda da igreja deve refletir os propósitos de Deus para o mundo” (BARRO, 2018b, p. 277). Ser uma igreja que contribui para a promoção do desenvolvimento sustentável é ser uma igreja que reconhece seus principais desafios nas dimensões social, econômica e ecológica, e que exerce sua missão fundamentada pelas Escrituras a partir de uma teologia bíblica da criação e hermenêutica da sustentabilidade.

CONCLUSÃO

A plantação de uma igreja transformadora passa pela definição do conceito de igreja enquanto comunidade de pessoas e não apenas de uma estrutura física; pela compreensão da plantação enquanto processo e não apenas de um ato e, por fim, pela sensibilidade socioeconômica, ecológica e cultural para o desenvolvimento. O Brasil não carece apenas de mais igrejas e sim de igrejas contextualizadas para a sua cultura, em cada localidade, de maneira transformadora, com um DNA que comtemple os princípios da contextualidade, missionalidade, transformacionalidade, integralidade e sustentabilidade.

Os objetivos da pesquisa foram atendidos ao discorrer sobre a teologia e prática da plantação de igrejas a partir de uma revisão bibliográfica, demonstrando que as igrejas devem ser transformadoras não apenas na dimensão espiritual, mas também socioambiental e cultural, não apenas de indivíduos, mas também de famílias e sociedades. A igreja pode e deve ser agente de transformação da sua cultura. A proposta é de um modelo para a plantação da igreja que contemple tanto na forma quanto no projeto, uma perspectiva integral e sustentável em sua missionalidade e contextualidade.

Os resultados desta pesquisa abrem uma porta sobre: 1) a importância da plantação de igrejas, seus estudos e desenvolvimento, a necessidade de não se perder mais tempo, recursos e pessoas no início de novos trabalhos com intenção de se organizar novas igrejas; 2) a importância da contextualização no plantio de igrejas e de um olhar holístico das novas igrejas missionais na perspectiva da integralidade da missão; e 3) o despertamento para a plantação de novas igrejas transformadoras comprometidas com o reino de Deus e com os objetivos do desenvolvimento sustentável.

O cumprimento da missão de Deus dada por Jesus à igreja será mais eficiente com um movimento de plantação de novas igrejas transformadoras, como forma de sinalizar o reino de Deus a partir das boas obras em ação.

Referências

BARRO, Jorge Henrique. A igreja missional. 2018a. Disponível em:
https://praxismissional.com.br/a-igreja-missional-por-jorge-henrique-barro/. Acesso em:
16/08/2022.
BARRO, Jorge Henrique. Cidades e comunidades sustentáveis. 2018b. In: BARRO, Jorge
Henrique; ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares Mantovani; SILVA, Welinton Pereira da.
Porque Deus amou o mundo: igreja & ODS. Londrina: Descoberta, 2018.BARRO, Jorge Henrique. Guia prático de missão integral. Londrina: Descoberta, 2013.
CARRIKER, Timóteo. O que é igreja missional: modelo e vocação da igreja no novo
testamento. Viçosa-MG: Ultimato, 2018.
DIAS, Lissânder. 31% são evangélicos no Brasil, diz Datafolha. 2020. Disponível em:
https://www.ultimato.com.br/conteudo/31-sao-evangelicos-no-brasil-diz-datafolha.
Acesso em: 18/08/2022.
DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em:
https://www.dicio.com.br/transformacao/. Acesso em: 18/08/2022.
ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2015.
GESSNER, George Luis. Plantar comunidades: elementos para a igreja semear a boa nova
em áreas pioneiras. Vox Scripturae – Revista Teológica Brasileira – São Bento do Sul/SC –
vol. XVIII – n. 2 – dez. 2010 – pp. 67-130. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/320314097_Plantar_comunidades_Elementos_pa ra_a_igreja_semear_a_boa_nova_em_areas_pioneiras>. Acesso em: 16/08/2022.
GRUDEM, Wayne A. Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões
que todo cristão precisa conhecer. Traduzido por Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova,
2010.
HIEBERT, Paul. Princípios de contextualização. In: CONGRESSO NORDESTINO DE
MISSÕES (1. : 2002: Caruaru, PE). Anunciai entre as nações a sua glória. Barbara Helen
Burns (Ed.). Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 2004.
KELLER, Tim. Apud: DUARTE, Jedeías de Almeida. Plantio de novas igrejas: uma
análise conceitual preliminar. 2011. Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/wpcontent/uploads/2019/05/Fides_v16_n1-Plantio-de-Novas-Igrejas-Uma-An%C3%A1liseConceitual-Preliminar.pdf. Acesso em: 18/08/2022.
LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando igrejas. São Paulo: Cultura Cristã, 2018.
MEDEIROS, A. G. Relatório Como Ouvirão 2018. João Pessoa: Missão Juvep, 2019.
Edição Online. Disponível em: http://comoouvirao.com.br/rco/. Acesso em: 18/08/2022.
MESQUITA, Mônica de. Missionários & recursos: parcerias no reino de Deus. Belo
Horizonte: Editora Betânia, 2011.
MUZIO, Rubens. O DNA da igreja: comunidades cristãs transformando a nação. CuritibaPR: Editora Esperança, 2010.
NICHOLLS, Bruce J. Contextualização: uma teologia do evangelho e cultura. Tradução
Gordon Chown. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2013.
PONTES, Paulo de Tarso. O que é plantação de igrejas?. 2014. Disponível em:
https://www.metodista.org.br/o-que-e-plantacao-de-igrejas. Acesso em: 15/08/2022.
PROENÇA, Wander de Lara; KLEIN, Tânia Aparecida Silva. Vida na água. In: BARRO,
Jorge Henrique; ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares Mantovani; SILVA, Welinton Pereira
da. Porque Deus amou o mundo: igreja & ODS. Londrina: Descoberta, 2018.
Relatório da Consulta Nacional Povos Minoritários do Brasil. Disponível em:
http://povosminoritarios.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Relat%C3%B3rio-daConsulta-Povos-Minot%C3%A1rios-2015.pdf. Acesso em: 18/08/2022.
RIBEIRO, Sérgio. Sertanejos. In: MEDEIROS, A. G. Relatório Como Ouvirão 2018. João
Pessoa: Missão Juvep, 2019. Edição Online. Disponível em:
http://comoouvirao.com.br/rco/. Acesso em: 18/08/2022.
STETZER, Ed. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudáveis e
relevantes à cultura. Traduzido por A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2015.
STETZER, Ed.; QUEIROZ, Sérgio. Igrejas que transformam o Brasil: sinais de um
movimento revolucionário e inspirador. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.
STEUERNAGEL, Valdir. O evangelho integral. In: Perspectivas no movimento cristão
mundial. Editado por Ralph D. Winter, Steven C. Hawthorne, Kevin D. Bradford. São
Paulo: Vida Nova, 2009.
STORCK, Delmar Ezequiel; DÜCK, Arthur Wesley. A plantação de igrejas na região
nordeste do Brasil: uma avaliação do método utilizado pela missão Juvep. Revista Cógnito,
Curitiba-PR, v. 2:2, pp. 178-202, 2020. Disponível:
https://revista.fidelis.edu.br/index.php/cognito/article/view/31. Acesso em: 17/08/2022.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais
Procurar
Pesquisar
Categorias
Blog
NORMAS E RESOLUÇÕES