Teologia bíblica dos conceitos equivocados de igreja

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18).

A igreja é propriedade exclusiva de Deus! Ela foi comprada por Jesus com preço de sangue (1Pedro 1:9). O Espírito Santo é quem a está preparando para se encontrar com o noivo (João 14:18 e 26; 16:8; Apocalipse 22:17). Igreja não é o templo, mas são as pessoas que aceitaram as propostas do evangelho. Gente que passou pelo processo de conversão e, simbolicamente, sepultou a velha criatura nas águas do batismo e tronou-se membro do Corpo de Cristo (1Coríntios 5:17 e Efésios 4:22).

São diversos os conceitos de igreja como propriedade divina. Mas o que seria certo ou errado nesse aspecto? A igreja é uma só? Para nossa melhor compreensão, convidamos o leitor a refletir sobre alguns conceitos equivocados de igreja, predominantes no discurso de certos estudiosos da Bíblia Sagrada, e que podem responder às considerações acima. Assim, queremos deixá-lo à vontade para ser nosso coautor na dinâmica pedagógica dessa leitura.

CONCEITO 1: IGREJA DA FAMÍLIA

Jesus foi pragmático ao afirmar que a Igreja é dele e não de uma família sacerdotal, pastoral, presbiteral ou pioneira: “…edificarei a minha igreja”. Percebe-se que o pronome possessivo “minha” denota exclusividade e nos reporta às palavras de Paulo à igreja de Corinto: “Porque fostes comprados por alto preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (1Coríntios 6:20). A expressão “alto preço” equivale a um preço exorbitante.

Portanto, o conceito de “igreja da família” não deve se apoderar da nossa teologia bíblica, fazendo-nos perder de vista os ensinamentos bíblicos. A igreja é propriedade exclusiva de Jesus (1Pedro 2:9). Não compete ao homem seus desígnios, porque dela Deus cuida. O pastor é apenas o anjo da igreja, mas não seu possuidor. Por isso, a Deus pertence seu comando. É preciso compreender na prática que ela não é um reinado de dinastia, tampouco uma empresa de gerenciamento.

Seria bom considerar que o conceito de “igreja da família” aqui analisado não diz respeito ao nome impresso na fachada de um templo, que indica o lugar de reuniões de famílias salvas e justificadas por Jesus, mas trata-se do conceito eclesiástico-administrativo adotado por muitos, que se autodenominam, ainda que inconscientemente, proprietários da Obra de Deus. Desse tipo de gente Jesus se compadece e lhe dispensa seus favores, porque a igreja é propriedade exclusiva de Deus.

CONCEITO 2: IGREJA DO TEMPLO

Jesus comprou a igreja, e não templos, com preço de sangue para ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 7:13-14). Seria oportuno retomarmos o conceito da palavra igreja, que vem do grego “eklesia” e que significa “chamados para fora”. Então, quando o texto diz “edificarei a minha igreja sobre esta pedra” – “pétra” no grego –, que se

refere a Ele mesmo, a ideia é de que a igreja foi chamada para pregar o evangelho, especificamente, fora do templo.

Por isso, é preciso considerar que a igreja não deve viver, confortavelmente, presa às amarras de quatro paredes. Sim, ela deve ser a igreja do bairro, da cidade e de todas as nações-etnias: “Ide (a igreja) e fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28:20). Não estamos fazendo uma apologia contrária a templos, mas apenas uma tentativa de resgate do conceito de igreja, “chamados para fora” para fazer discípulos além (ou fora) de qualquer tipo de edificação.

Diante disso, ninguém discordaria de que a igreja, constituída de famílias pecadoras, mas perdoadas por Jesus, está à mercê do poder de Deus para romper as portas do inferno. A ação do inferno não é contra edifícios, mas contra seus edificadores, (pessoas) que compõem a igreja. Por isso, ninguém se ensoberbeça com templos suntuosos, bem arquitetados e assessorados, que são importantes e servem, temporariamente, para agregar as estratégias e técnicas evangelísticas.

CONCEITO 3: IGREJA DA TERRA

Corremos o perigo de pensar que a igreja, não como patrimônio (pessoa física), mas como a noiva do Cordeiro (espiritual), permanecerá para sempre nesta terra. Ledo engano! A eternidade da igreja-noiva será com Jesus nos céus e não na terra (Mateus 25:46; 1Pedro 1:11). Quando o texto diz que as “portas do inferno” não prevalecerão contra ela, Jesus deixa em evidência que a igreja é de dimensão espiritual e celestial, e não terrena.

Se assim não fosse, o inferno não apareceria nesse contexto como “intriga de oposição” à igreja. Os templos ou igrejas-denominações, que por vezes são embelezados, ornamentados e até idolatrados, não vão herdar a eternidade com Deus. Agora, a igreja invisível, composta de gente transformada pela obra do Espírito Santo (João16) e que mantém o azeite em suas lamparinas (Mateus 25), não é da terra, mas dos céus. Essa, sim, irá morar com Jesus.

Terra e céu são contrastes no quesito da escatologia bíblica. Jesus ensinou que a igreja não deve juntar tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam, mas no céu, onde esses elementos e substâncias jamais haverão de chegar (Mateus 6:19-20). Por isso, o profeta Miqueias diz que nossa estada (ou da igreja) não é na terra, mas na eternidade com Deus (2:10).

PARA REFLETIR!

Se a igreja, segundo os entendidos, é o conjunto de fiéis unidos pela mesma fé e que celebram as mesmas doutrinas bíblico-religiosas, como entender, biblicamente, a questão da diversidade de denominações-igrejas evangélicas?

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