Não os encobriremos aos seus filhos, contaremos às gerações vindouras sobre os louvores do SENHOR, seu poder e as maravilhas que tem feito. Salmo 78.4
O filósofo alemão, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que viveu no final do século XVIII, disse uma vez que a única coisa que aprendemos com a história é que não aprendemos coisa alguma com ela, significando dizer que, na maioria das vezes, analisamos a história sem a intenção de a assimilar.
Ao estudarmos a Bíblia e a história da Igreja, descobrimos que o povo de Deus cometeu o mesmo erro, e o Salmo 78 é uma comprovação histórica disso. Ao recapitular a história de seu povo, Asafe viu um triste registro do esquecimento, da infidelidade, da insensatez e, por fim, do fracasso do povo da aliança. Então procurou entender o significado de tudo isso e nós não podemos ignorar que tais coisas foram escritas para o bem dos cristãos de hoje (1Coríntios 10.11,12). De modo que devemos dar ouvidos às palavras de Asafe, afinal como disse A.T. Pierson: “A nossa história é a história de Deus”.
Perguntas com respostas óbvias devem ser feitas pela igreja ao longo da sua trajetória como: Onde estaríamos hoje se, ao longo dos séculos, o remanescente dos líderes espirituais judeus não tivesse preservado as Escrituras para nós?
Não podemos esquecer que até o Novo Testamento ser completado no final do primeiro século, a única Bíblia que a Igreja primitiva possuía era o Antigo Testamento e a lei de Deus ordenava que cada geração de seu povo transmitisse a Palavra de Deus para a geração seguinte e este é um mandamento que se aplica a sua Igreja hoje (2Timóteo 2.2).
A Reforma Protestante
Temos na história da igreja um momento pontual onde o retorno às Escrituras não foi só necessário, mas também urgente, pois mais uma vez o povo de Deus havia negligenciado sua missão de transmitir as Escrituras às gerações seguintes. Estamos falando da “idade das trevas” que antecedeu à reforma protestante.
O cristianismo primitivo havia se tornado uma estrutura organizacional hierárquica, centralizada nos bispos, e a teologia popular da igreja tinha caído em um sinergismo cínico e infundado, ou seja, criam em uma doutrina pela qual a salvação do homem só poderia ser alcançada mediante a relação de feitos que serviriam como uma colaboração com a graça divina, assim os líderes da Igreja Católica Romana davam a entender que a graça era como uma simples mercadoria que podia ser conquistada ou até mesmo comprada.
Como resultado desse desvio, o mérito se tornou a palavra chave nessa soteriologia, levando a fé a ser interpretada como fidelidade aos ensinos e às práticas da igreja oficial romana, e esses ensinos se caracterizavam como obras de caridade que eram interpretadas como compra de indulgências, o pagamento de missas em favor das almas no purgatório, peregrinações dispendiosas para ver relíquias, doação de esmolas aos pobres e práticas de penitências.
Não há dúvidas de que tudo isto se deve ao fato da igreja ter se tornado uma organização institucional, chegando ao ponto de ensinar que somente na organização visível da igreja romana podia-se encontrar a verdadeira igreja. Fica claro que nesta proposta a igreja havia deixado de cumprir, a partir dos seus líderes, os propósitos estabelecidos por Jesus e ensinados pelos seus apóstolos à igreja.
A confissão feita pelo apóstolo Pedro, de que Jesus é o “Cristo, o Filho do Deus vivo” e sobre a qual Jesus disse que edificaria a sua Igreja e contra ela as portas do inferno não prevaleceriam, foi tendenciosamente interpretada, de maneira que os papas reivindicaram para si a posição de mediadores entre Deus e a igreja.
Ao afirmar que Pedro foi o 1° papa e que eram eles seus sucessores, a edificação da Igreja baseada única e exclusivamente no fundamento que confessa Jesus como “o Cristo e Filho do Deus vivo” deixou de ser a razão principal da igreja visível e assim propósitos indispensáveis da Igreja deixaram de ser cumpridos, ou na melhor das hipóteses, foram substituídas por outros objetivos.
A reforma protestante do século XVI propôs, no contexto observado, o retorno às Escrituras e teve seu ponto alto quando, em 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou às portas da Capela de Wittenburg, na Alemanha, as suas 95 teses contra a Igreja católica. A proposta de reforma tem algumas bases, pontos e fundamentos teológicos que podem ser conhecidos e entendidos no que chamamos de “Os Cinco Solas da Reforma Protestante”.
Sola Scriptura
Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça. 2Timóteo 3.16
A Escritura é a única regra de fé e prática daqueles que vivem o Evangelho. O texto citado acima é a conclusão que o apóstolo Paulo oferece a uma sessão na qual afirma o valor das Escrituras. O argumento gira em torno do chamado de Timóteo para que permaneça fiel a todo ensino que recebeu. O livro de atos registra que, por meio de sua mãe, Timóteo era judeu, apesar de seu pai ser grego (Atos 16.1-3), portanto, parece claro que Timóteo foi criado por sua mãe.
Um dos orgulhos de um judeu era que seus filhos, desde seus mais anteriores dias fossem ensinados e treinados na Lei. Os judeus pretendiam que seus filhos aprendessem a Lei até mesmo estando em fraldas, enquanto bebiam o leite de suas mães. Sustentavam que a Lei estava tão impressa no coração e na mente do menino judeu que antes de esquecer-se dela, podia esquecer seu próprio nome.
Não podemos esquecer que as Escrituras, as quais Paulo se refere, são o Antigo Testamento, porque, é obvio, ainda não existia o Novo Testamento, porém, se o que Paulo diz aqui sobre o Antigo Testamento é certo, quanto mais o é com relação às preciosas palavras do Novo Testamento.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus” diz o apóstolo, mas não devemos entender que Paulo está colocando as Escrituras ao lado de outros livros que também são aptos para ensino, repreensão, correção, instrução e justiça. Mas está afirmando que é somente na Escritura que encontramos a Inspiração, Autoridade, Inerrância, Clareza, Necessidade e Suficiência de Deus, pois é somente na Escritura que encontramos o testemunho acerca da verdade de Deus.
É somente na Escritura que encontramos a história de salvação de um Deus que salvou homens que acharam graça aos seus olhos e fez deles pessoas que devem ser imitadas pelo seu andar com Ele. É somente na Escritura que encontramos o Deus que elegeu e salvou um homem que se tornou nação com a missão de fazer o Seu nome conhecido à humanidade.
É somente na Escritura que Deus escolheu desde toda a eternidade o seu Filho para ser o representante federal da humanidade na Cruz para que estes tivessem os seus pecados expiados. É somente na Escritura que encontramos Jesus representado de várias formas e prometido de várias maneiras no Antigo Testamento, visto e cumprido no Novo Testamento e a boa notícia de que Deus em Cristo, o Messias prometido, estava reconciliando consigo mesmo o mundo, não lhes imputando os seus pecados.
É somente na Escritura que encontramos o fundamento da nossa Teologia, seja ela sistemática, bíblica, apologética, hermenêutica, exegética ou pastoral. É somente na Escritura que encontramos, na simplicidade da leitura, o que precisamos para conhecer o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e o Evangelho, para sustentar a fé e nortear a vida.
A Igreja precisa voltar-se urgentemente para Escritura para encontrar novamente o Evangelho para fundamentar a sua Fé. Se a Igreja continuar caminhando sem a Escritura o fracasso é iminente.
Souls Christus
Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem. 1Timóteo 2:5
Solus Christus é um dos princípios teológicos fundamentais da Reforma Protestante do século XVI. Neste período a igreja se encontrava quase que totalmente secularizada, seus interesses se confundiram com os da política e cultura e, por isso, seus líderes cada vez mais buscavam a primazia entre a sociedade. Nessa época, o ministro era considerado como tendo uma relação especial com Deus, na medida em que mediava a graça de Deus e o Seu perdão através dos sacramentos.
A reforma se contrapôs a isso, defendendo que a mediação entre Deus e o homem só pode ser feita por Cristo, por meio do seu sacrifício que é suficiente e eficaz para a salvação daquele que é chamado a crer, isto é, não existe outro caminho que leve o pecador a Deus senão o proposto pelo próprio Deus, isto é, Cristo Jesus.
Em 1Timóteo 2:5, Paulo deixa isso muito claro, mesmo porque o contexto imediato trata como assunto a salvação. O raciocínio é simples: se existe apenas um Deus que deseja a salvação de todos, ou seja, não só dos judeus, mas de homens de todos os lugares, só pode existir um mediador entre estes homens e este Deus.
Por isso, Paulo diz “Cristo Jesus, homem”, se fosse a salvação destinada a um grupo em especial, como por exemplo, aos judeus, o apóstolo teria escrito: “Jesus Cristo, judeu”, mas como Deus tem os seus salvos entre os homens em geral, Paulo, o descreveu assim. Nessa condição, Cristo não só restaura os pecadores a uma relação legal com Deus, como também os leva ao conhecimento da verdade testificando-a como a única verdade. Desse modo, Solus Christus é o grito de quem encontrou o único caminho que leva ao descanso em Deus, é o alivio de quem, em densas trevas, encontrou a luz, é a resposta positiva de quem ouviu um chamado gracioso e não pode resistir.
Hoje, a secularização da igreja continua, mas se os reformadores do Século XVI foram levantados por Deus para denunciar e protestar contra os abusos da igreja que reclamava para si o direito de ser mediadora entre Deus e o homem, nós temos de continuar o protesto, mas agora, contra estes que, ao invés de protestar, querem fazer da Igreja a mediadora entre o homem e o diabo. Quem crê apenas no Evangelho encontrou o único caminho que o levou a Deus, Cristo Jesus. Ele incorpora a suprema revelação de Deus, de modo que Ele mesmo narra Deus, ou seja, diz e faz exclusivamente o que o Pai lhe concede dizer e fazer, diz e faz o que Deus é! Ele é a graciosa auto revelação de Deus, ele é a sua palavra em carne.
Sola Fide
Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu e também do grego. Pois a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá pela fé. Romanos 1.16-17
O evangelho era loucura para os gregos e escândalo para os judeus. Mesmo assim, Paulo não tinha vergonha do Evangelho. A ideia é que ele se orgulhava do Evangelho e assim o pregava. O fato é que o Evangelho é o poder de Deus. Ou seja, a força de Deus para a salvação do que crê, isto é, de todos que tiverem fé. Assim, judeus para os quais Jesus veio primeiro e gregos, significando dizer todos.
A justiça que justifica o pecador é a justiça que se revela no Evangelho. Com isso, Paulo quer dizer que o entendimento para a salvação é dado ao que crê por meio do Evangelho. A justiça, nesse caso, não é somente um atributo de Deus, mas uma justiça em operação no coração do pecador para justificá-lo, para que ele viva como justo de Deus. A justiça de Deus é a condição que o pecador tem no Evangelho.
É pela fé somente que o justo deve viver. De fé em fé. O justo viverá pela sua fidelidade ao Deus que é fiel que o justificou no Evangelho. O justo vive da fidelidade de Deus que o torna fiel. A Citação de Habacuque mostra como deve ser a vida do justificado pela fé somente. A fé não é caminho para a vida, mas para a justificação do pecador. Esse justificado vive de fé em fé.
O princípio Sola Fide é a afirmação de que o homem é justificado única e exclusivamente pela fé somente, sem o acréscimo das obras do mérito humano. Segundo a tradição reformada é o artigo pelo qual a igreja é sustentada, isto é, a justiça do Evangelho da qual não nos envergonhamos, pois é o poder de Deus para salvação, é do princípio ao fim pela fé. Pois conforme Paulo aos Romanos: O justo viverá pela fé.
A fé que justifica o homem é dom de Deus, é o meio pelo qual a justiça de Cristo é imputada ao pecador. Não há glória meritória, se o pecador tiver que se gloriar, glorie-se no Senhor que atribuiu a sua justiça a ele. Pela fé somente nessa graça é que os pecados do homem são lançados sobre Cristo, o verdadeiro justo de Deus, que na Cruz cumpriu toda justiça de Deus. Esta justiça é atribuída ao pecador. Daí o homem no tribunal de Deus, ser declarado, de uma vez por todas, justo diante de Deus.
A Igreja que quer se manter em pé tem de viver pela fé somente na Cruz do Cristo do Evangelho, pois é apenas no Evangelho, que somente a Escritura afirma que é por Cristo somente que o homem é salvo, tendo como base a Graça somente, por meio da Fé somente, para Glória de Deus somente.
Sola Gratia
E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. 1Pedro 5:10
A graça segundo o conceito comum é o favor imerecido de Deus ao homem pecador, significando dizer que a graça é o favor de Deus aos homens que não merecem de modo algum a dádiva de Deus.
Além da graça ser um dos atributos de Deus é, também, o próprio Cristo em Sua encarnação, pois a graça de Deus se há “manifestado”, e o Espírito Santo aplica a graça ao coração do pecador. Isto quer dizer que a trindade é Graça e comunicação de graça.
Deus tem toda graça em seu ser divino, em sua essência. Ele é pleno, completo de graça e favor, mas existe outro significado deste termo e que está bem claro no texto de 1Pedro 5.10, isto é, que a graça é a qualidade ou atributo do ser de Deus, ou ainda, Deus tem em si toda a graça e é gracioso em essência e ação.
Paulo escrevendo a Timóteo diz: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”. (I Tm 1.9) Isto significa que a graça já existia Nele antes de ser exercida, assim a graça como atributo de Deus é eterna como Ele é eterno. Paulo usa a expressão antes dos tempos, ou seja, na eternidade, assim, Deus é eterno, e, neste sentido, sua graça também é eterna.
A teologia divide a graça em comum e especial. A graça comum é aquela que é comunicada a todos os homens, é a que dá aos homens, bênçãos sem medida. A graça especial é soteriológica, pois é por ela que o homem é salvo. É a comunicação da salvação de Deus ao pecador. A graça especial na teologia reformada é irresistível, não há coração que resista a sua eficácia segundo a vontade de Deus em salvar os seus.
Deus é gracioso ao comunicar sua graça aos homens, pois o mesmo apóstolo Paulo escreve aos Efésios: “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Efésios 2.7. Devemos perceber que apesar de Deus ser satisfeito em si mesmo pela essência graciosa que há Nele, o texto afirma que Deus é gracioso na demonstração e comunicação de sua graça aos homens em Jesus Cristo, isto porque o pecado em nós não foi um delito contra a lei de Deus apenas, mas sim contra o seu coração, é possível expiar a transgressão de uma lei, mas é impossível fazer expiação por um coração destroçado se este não perdoar.
O comentarista Willian Barclay propõe uma analogia para entendermos o tamanho da nossa ofensa e superioridade da graça em relação a ela: suponhamos que um motorista, por imprudência, mate um menino e seja detido, julgado, declarado culpado, sentenciado a uma determinada prisão ou determinada multa e por fim seja privado, por algum tempo, da licença para dirigir, no que diz respeito à lei, o assunto acaba aqui. Mas é muito diferente a posição com respeito à mãe do menino morto, pois jamais conseguirá compensar sua perda, nunca poderá cobrir o fato apenas submetendo-se a um período da prisão ou pagando uma determinada multa. O crime cometido vai contra o amor da mãe a seu filho e o único ato que pode restabelecer uma relação o livre perdão por parte dela. Foi isto que Deus fez e aqui fica evidente que Deus comunicou o seu atributo aos homens.
Portanto o termo sola gratia refere-se a tudo que o homem possui, e, em especial, a salvação que é pela graça somente. É pela graça que o homem é regenerado, justificado, santificado e glorificado, herdando assim, a salvação eterna. É pela graça somente que o homem recebe os dons espirituais e talentos que são usados em favor do Reino. É pela graça somente que o homem recebe as bênçãos de Deus. É pela graça somente que o homem é convencido de que não há méritos nele para que Deus faça alguma coisa em seu favor, enfim, tudo é pela graça somente.
Os reformadores do século XVI afirmaram que é tudo pela graça, portanto, hoje, reafirmamos contra toda teologia do mérito humano, que tudo é pela graça somente.
Soli Deo Gloria
A ele seja a glória eternamente! Amém. Romanos 11:36
Soli Deo Gloria foi a denúncia feita pelos reformadores contra o clérigo romano que atribuía glória a si mesmo, “canonizando-se” uns aos outros. Na visão da reforma, a descentralidade das Escrituras no seio da igreja seguiu um processo sucessivo, um tipo de “efeito cascata”, ou seja, a substituição da fé (Sola Fide) pelas obras meritórias, como caminho para a salvação, resultou na desvalorização das Escrituras (Sola Scriptura), consequentemente a mediação entre Deus e os homens, feita unicamente por Cristo (Solus Christus), perdeu sua ênfase, e o efeito disto foi à banalização da Graça (Sola Gratia).
Quando a igreja romana substituiu, no processo soteriológico, a fé, as Escrituras, o Cristo e a graça por obras, inevitavelmente incorreu ao erro de glorificar-se a si mesma.
Portanto, Soli Deo Gloria é o princípio segundo o qual, no processo de salvação, toda a glória é devida a Deus, pois, a remissão do pecador só é possível porque nasceu no conselho soberano de Sua vontade.
Todas as coisas são para Deus, logo tudo está em ordem quando retorna como louvor a Ele e, assim, a melhor reposta que temos para o porquê de as coisas serem como são é que tudo é para a glória de Deus, ou seja, quando entendemos que Deus faz cumprir sua vontade, trabalha esta vontade a sua maneira e o resultado final é a perfeição, o que nos resta dizer é Glória a Deus!
Todos os caminhos da vontade de Deus serão percorridos por nós para o seu agrado e o agradável é que a gloria seja dele, não por vaidade divina, mas, porque, quando a gloria é dada a ele, tudo está em perfeita ordem e, isto sim, o agrada. Quem creu apenas no Evangelho vive para a glória de Deus, pois sabe que a sua fé em Cristo, suscitada pela revelação das Escrituras, o reconciliou com ele pela graça. Assim hoje e sempre, mais do que nunca: Soli Deo Gloria!
Conclusão
Uma das frases marcantes atribuída ao reformador Martinho Lutero é: “eu não fiz nada, a palavra fez tudo”. Essa frase, talvez, resuma a intenção da reforma, que não sugeriu nada inédito para a igreja de Deus em seu tempo, mas afirmou que o único caminho proposto para que a igreja se conserve no Evangelho em todo o tempo é a permanência nas Escrituras.
Assim, é errado dizer ou pensar que a reforma protestante reinterpretou as Escrituras, pois afirmar isso é correr o risco de superestimar toda essa produção teológica e colocá-la acima do Evangelho, cometendo o erro que a própria reforma tentou desfazer em relação a teologia vigente, ou ainda de subestimar toda produção e esforço desses homens que atenderam um período negro em seu tempo e ao mesmo tempo em que cumpriram seu chamado deixando seu legado.
O que queremos dizer é que a importância da reforma é ímpar na história da igreja, pois é um registro extra bíblico de que Deus preserva a sua Palavra e, por meio dela, protege seu povo. Nossa missão talvez seja dar veracidade a outra expressão escrita em latim e atribuída ao teólogo holandês Gilbertus Voet (1589-1676): “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est”.
Essa frase foi proferida durante o Sínodo de Dort, realizado em Dordrecht, Holanda, entre novembro de 1618 e maio de 1619 e significa: Igreja Reformada, sempre se reformando. Portanto, uma igreja que retorna às Escrituras estará sempre retornando às Escrituras para nela permanecer. A igreja precisa trazer à memória a centralidade da Palavra de Deus.
Pr. Flávio Santos e Pr. Sandro VS