DIA DO ÍNDIO: UMA OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO BÍBLICO-MISSIONAL
19 de abril é Dia do Índio, ou Dia dos Povos Indígenas, criado pelo presidente Getúlio Vargas, por meio do decreto-lei 5540, de 1943. Essa data foi proposta pelas lideranças indígenas do continente americano que participaram do 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. A data, além de ser um motivo de reflexão sobre os valores culturais dos indígenas e a importância da preservação e respeito desses valores, trata-se de uma motivação para refletirmos sobre o grande desafio e a urgência da evangelização desses povos, abrangidos por Jesus em Mateus 28:19, bem como uma oportunidade para homenagearmos nossos obreiros e igrejas nas tribos indígenas, nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazônia, São Paulo e outros.
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Jesus foi categórico em afirmar que todas as nações deste planeta precisam conhecer o seu nome, que está acima de todo nome (Mt 28:19; Mc 16:15; At 1:8). O apóstolo Paulo diz que, um dia, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus (Fp 2:10-11). São evidentes as palavras de Jesus, registradas por Mateus, que dizem que, enquanto o evangelho não for pregado nos cantos e recantos deste mundo, em testemunho a todas as gentes, o fim não virá (Mt 24:14).
É impressionante a velocidade com que o tempo está passando e as profecias estão se cumprindo. O Cristianismo é, hoje, a maior religião do mundo. Seu crescimento tem sido gradativo e constante, mas há ainda milhões e milhões de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus. Nem é preciso falar dos mais de 3 milhões que vivem na Janela 10×40 e que sequer ouviram falar de Jesus. Verdade é que existem muitas etnias que ainda precisam ser alcançadas pelo evangelho.
Conceito de etnia
Segundo a missiologia, etnia é um grupo de pessoas distinto de outro grupo humano, devido à sua língua e cultura. Ou seja, são povos ou gente que possuem crenças, valores e instituições totalmente diferentes. Por exemplo, os japoneses no Brasil são um grupo de pessoas etnicamente diferente dos coreanos que aqui residem. As diferenças entre essas etnias são várias: comida, aparência, comportamento social, religião, modo de pensar, etc.
Nesse aspecto, os povos indígenas, que provavelmente vieram da Ásia e depois se espalharam pelas Américas, estão inclusos nas palavras de Jesus no texto da Grande Comissão, e precisam ser alcançados pelo poder do evangelho. Aliás, os grupos indígenas que vivem no Brasil podem ser considerados verdadeiras nações de costumes absolutamente diferentes. Vale ressaltar que nação, aqui, não se trata de país politicamente consolidado, mas de um grupo de gente que tem sua própria cultura.
Gente carente de Jesus
Antes da descoberta do Brasil, por Pedro Álvares Cabral, os indígenas já estavam aqui e dominavam as terras brasileiras. Um índio Caimbé, referindo-se a eles como os primeiros habitantes do solo brasileiro, disse: “O Brasil não foi descoberto, o Brasil foi roubado”. O censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a população indígena é de quase 897 mil, sendo que 63,8% vivem na zona rural e 36,2%, na urbana, distribuídos em 305 etnias.
A maioria dos indígenas mora na bacia amazônica, os demais estão espalhados pelo Brasil, sendo 38,2% na região Norte, 25,9% no Nordeste, 16% no Centro-Oeste, 11,1% no Sudeste, e 8,8% no Sul. Dos mais de 250 povos indígenas brasileiros, 133 possuem presença missionária evangélica e 20 têm igrejas com liderança autóctone. Dessas 20 igrejas, apenas 14 possuem o NT traduzido para a sua língua. Precisamos orar para que Deus levante tradutores, pois se sabe que grande parte dos tradutores não consegue conciliar tradução e evangelização, devido à intensidade do trabalho.
O número de tribos que não possuem nenhuma porção da tradução da Bíblia é ainda muito grande. As etnias indígenas carecem de grande empenho para serem alcançadas. A Igreja precisa se inteirar da situação cultural, social e religiosa desses povos para apresentar-lhes o Evangelho Integral Sustentável.
Igrejas autóctones
O que seria uma igreja autóctone? É a igreja nascida em um país e que não possui influência externa, ou seja, influência cultural importada, já que os seus padrões são todos nativos. A igreja autóctone atenta mais para os princípios da Palavra de Deus do que para os métodos, de forma que a exposição do evangelho seja compatível com o povo no meio do qual ela existe ou está sendo plantada. Jesus não interferia na cultura e nos costumes dos povos evangelizados (Jo 4:1-30).
Ele anunciava o reino de Deus e, com isso, as cidades eram transformadas, porque as pessoas eram, primeiramente, transformadas pelo poder de sua Palavra (Jo 6:63). Esse deve ser o foco para plantação de igrejas em outras culturas, isto é, ter como objetivo primeiro a criatura humana (Mc 16:15), para que, depois de convertida, o evangelho alcance o grupo de pessoas no meio do qual ela vive. Desta forma, as verdades bíblicas serão muito mais proveitosas pelo grupo étnico alcançado.
Por isso, precisamos admitir que um obreiro indígena possui suas particularidades étnicas, e que não temos como exigir que ele se enquadre dentro dos princípios de um obreiro não-indígena. Um pastor autóctone tem maiores possibilidades de ser bem-sucedido como missionário do que um obreiro que não seja daquele contexto. Somos gratos a Deus pela vida dos irmãos Carmo da Silva e Emenergildo Balbino, hoje pastores/missionários autóctones da IPRB nas aldeias indígenas de Miranda, MS. Deus abençoe suas vidas, famílias e igrejas indígenas renovadas no Brasil.
Igreja missional
A igreja em Antioquia era a “base missionária” da igreja primitiva. É o protótipo para todas as demais igrejas. De lá saíram os primeiros missionários: Paulo e Barnabé. Por isso, missões é tarefa da igreja local, e não exclusiva das agências missionárias. Estas devem funcionar como parceiras das igrejas na evangelização. A igreja local é o celeiro, de onde homens e mulheres são chamados e enviados para os campos missionários, e ela deve prover os recursos necessários para manutenção dos missionários.
O leitor poderia perguntar: mas o que seria uma igreja missional? Seria uma igreja missionária? Sim, mas o conceito do termo “missional”, segundo Rubens Muzio, é uma forma de enfatizar a verdadeira vocação da igreja na terra como povo chamado e enviado para servir e evangelizar. Isto é, o termo impõe sobre a igreja uma responsabilidade mais aguda, exigente e urgente. Ser uma igreja missional significa ser uma igreja urbana que faz o mesmo trabalho de um missionário, a partir do bairro onde está inserida.
A igreja missional cumpre o que está escrito em Atos 1:8, evangelizando em Jerusalém (dimensão urbana-local), Judeia (dimensão urbana-nacional), Samaria (dimensão urbana-continental) e os confins da terra (dimensão urbana-mundial). Em outras palavras, igreja missional significa adotar a postura profética de um missionário, que se adapta ao contexto do outro sem perder de vista a essência dos ensinos da Bíblia Sagrada. Ser uma igreja missional é um estilo de vida cristã.
Missionário em potencial
Discipular ou fazer discípulos de todas as etnias é a missão dada à Igreja. O desafio da evangelização do indígena não é uma tarefa apenas das agências missionárias, mas de qualquer cristão. Ou seja, cada crente é considerado um “missionário em potencial”. Ninguém pode se eximir dessa responsabilidade, dizendo: “Eu não posso sair da minha cidade”. Se não podemos ir, podemos contribuir ou até mesmo orar a favor das tribos indígenas, para que Deus levante pessoas para trabalhar entre esses povos.
O apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes de Corinto, traça de maneira prática o perfil de um missionário: “Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isso conforme o Senhor concedeu a cada um” (1Co 3:5). Missionário é, portanto, um servo de Deus, por meio de quem as pessoas vão crer em Jesus (2Co 3:4). É claro que cada um tem a sua especificidade. Um foi chamado para plantar, outro foi para regar e assim por diante. Cada um faz para Deus aquilo que está vinculado ao propósito divino para sua vida (1Co 3:6-8). Todo cristão deve ser uma testemunha viva da Palavra de Deus (At 1:8).
Para refletir
“Era uma vez quatro indivíduos chamados: Todo Mundo, Alguém, Ninguém e Qualquer Um. Quando havia um trabalho importante para ser feito (por exemplo, a obra de Deus), Todo Mundo estava certo de que Alguém faria; Qualquer Um poderia ter feito, mas Ninguém o fez. Quando Ninguém o fez, Alguém ficou nervoso, porque isso era obrigação de Todo Mundo. No final, Todo Mundo culpou Alguém, quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito”. Jesus disse: “Trabalhemos enquanto é dia, porque a noite vem” (Jo 9:4).
Pr. Advanir Alves Ferreira
Presidente da IPRB