O trabalho de alguns pastores tem sido alvo
de ferozes críticas na mídia. Os jornais e a TV
não perdoam deslizes e se incumbem de levar
os escândalos aos ouvidos de toda a nação.
Como evangélicos, não gostamos de ver o bom
nome do Evangelho maculado
pelo testemunho inadequado
de homens que deveriam
ser exemplos de vida

Já ao tempo do Novo Testamento, a Igreja sofria certas ameaças. Lobos que se vestiam de ovelhas rodeavam o rebanho de Jesus. Seus interesses eram egoístas; seus métodos, espúrios; seu vocabulário, enganador.

O texto de 1Pedro 5: 1-4 é um verdadeiro crivo para separar o bom do mau pastor. Em dias de mercantilismo da religião, em que pessoas com caráter doentio promovem escândalos, é necessário que aprendamos com o apóstolo as atitudes fundamentais de quem deseja pastorear o rebanho de Deus. Ele mostra três grandes provas a que todo aquele que almeja o pastorado deve se submeter e ser aprovado.

A prova das motivações

Quais os interesses que levam alguém a optar pelo sagrado ministério? Não pode ser outro, mas sim a vocação divina. Pedro disse que ninguém pode ir para o ministério pastoral movido por qualquer tipo de constrangimento. À vocação divina se atende com espontaneidade, como fizeram os discípulos que, deixando seus trabalhos e familiares, responderam ao chamado de Jesus, Mt 4: 18-22.

Professores de seminários e de instituições teológicas costumam dizer, nos primeiros dias de aula, aos alunos: “Se você veio estudar no seminário porque não conseguiu passar no vestibular, está no caminho errado”. Ministério pastoral não é segunda opção, não é decisão forçada por circunstâncias humanas.

Ainda quanto às motivações, Pedro cita a “sórdida ganância”. Essa expressão refere-se a interesses financeiros. Desde o primeiro século, certas pessoas pensavam no ministério como fonte de ganhos financeiros.

O mercantilismo da fé tornou-se um grande negócio. Há pregadores que usam o Evangelho como instrumento para enganar o povo em sua simplicidade e arrebanhar os incautos. Não pensam nas almas perdidas, mas no dinheiro que podem vir a obter através de contribuições.

A prova do temperamento

Será que para alguém ser pastor é necessário que tenha um determinado temperamento? É evidente que não. Mas é preciso, sim, que tenha controle de seu temperamento.

O apóstolo Pedro havia sido um homem impulsivo e volúvel. Num momento confessara a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16: 16); logo depois, ouviu a repreensão: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16: 23); numa circunstância afirmou: “Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte…” (Lc 22: 23); depois disse: “Não conheço tal homem” (Mt 26: 72), negando a Jesus.

O Espírito, contudo, moldou o apóstolo Pedro. Do alto de sua experiência pastoral, afirmou que todo aquele que pastoreia o rebanho de Deus não pode agir como “dominador”. Ora, que é isso senão uma afirmação de que o temperamento de quem exerce o pastorado deve ser completamente submetido ao controle do Espírito de Deus?

O pastor dominador não é temperante, modesto ou cordato, comportamentos essenciais mencionados por Paulo em 1Tm 3: 3. O dominador não ouve os liderados, é autocrático, não permite aos outros fazer escolhas, sente-se dono do rebanho e faz prevalecer sempre sua vontade. Tal pessoa não serve para o pastorado, de acordo com o apóstolo Pedro.

A prova do caráter

Finalmente, o apóstolo manda que os pastores sejam modelo para o rebanho. Essa foi a mesma preocupação que Paulo expressou para com Timóteo: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.” (1Tm 4: 12).

A palavra grega traduzida por “padrão” nesse versículo é “typos”. Esse termo (tipo) está relacionado às artes gráficas. O tipo gráfico é um bloco de metal fundido ou de madeira que tem em uma de suas faces uma determinada gravação em relevo. Através da impressão são feitas tantas cópias quantas necessárias. Assim deve ser o pastor: um tipo. Seu caráter deve ser reproduzido no rebanho.

A dura verdade é que há uma crise de comportamento no mundo atual. Essa crise tem sérios reflexos na igreja. Mas quem não tem condições de ser modelo, padrão para o rebanho, também não deve exercer o pastorado.

O caráter íntegro e o amor incondicional ao Senhor são marcas daquele que atendeu à vocação divina. Paulo, em 1Tm 3: 1- 7, enumera as qualificações necessárias para quem aspira ao ministério.

É impossível ser pastor sem o fruto do Espírito na vida, Gl 5: 22-23. São essas qualidades que dão condições ao homem de Deus de desenvolver um pastorado eficaz, produtivo e abençoado.

……………………

Fonte: Jornal Aleluia de junho de 2002

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