O termo ‘resiliência’ pertence à física,
ou seja, é a propriedade que alguns corpos
apresentam de retornar à forma original ou normal
após terem sido submetidos a uma
deformação elástica.
“O rio atinge seus objetivos
porque aprendeu a contornar
os obstáculos”. (André Luiz)
No sentido figurado, resiliência seria a capacidade de se recobrar facilmente ou de se afastar das mudanças indesejáveis. Neste sentido, para os especialistas em comportamento humano, este termo se aplica ou se molda às pessoas que possuem um alto grau de capacidade para retornar ou dar a volta por cima às situações anteriores (ou originais), quando são vítimas de grandes investidas ou adversidades.
Ser resiliente é ter a capacidade de recomeçar ou começar tudo de novo, depois de sofrer algum dano na vida, seja ele material, físico, ou espiritual. Resiliência é uma graça de que todos precisamos e que está à nossa disposição. Não há como negar esta verdade, pois a provação ou a tentação é, incondicionalmente, fator inerente ao Cristianismo, porque todos estamos sujeitos às intempéries da vida.
Quem nunca foi nocauteado, ou passou por um sério problema, como, por exemplo: uma doença repentina, a perda do emprego, a falência de um negócio, a morte de alguém muito próximo, um golpe na vida espiritual, o trauma de um sequestro ou de um acidente, o rompimento do casamento que durava anos, de uma amizade muito forte, ou, ainda, a reprovação no vestibular ou em algum teste? Verdade é que a vida nos proporciona muitas surpresas, e nem todas agradáveis.
Portanto, ser resiliente constitui-se num desafio constante para qualquer pessoa, seja ela cristã ou não-cristã. Assim, gostaria de convidar o leitor a uma reflexão sobre a graça (bênção) da resiliência, fundamentada no contexto das palavras do apóstolo Paulo, escritas aos Romanos 12: 12: “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração”.
Alegria na esperança
Parece simples, mas a esperança é o ingrediente número um que possibilita à pessoa nocauteada por algum acontecimento traiçoeiro retornar à condição de voltar ao seu estado normal de vida: ¨Alegrai-vos na esperança¨. Quer dizer, ela seria como um choque elétrico emitido por um desfibrilador em alguém que sofreu parada cardíaca.
Neste caso, a esperança é a carga elétrica que reativa o processo de respiração do paciente. Se não fosse a esperança, Jó, que viveu, aproximadamente, 2000 anos aC., jamais conseguiria dar a volta por cima, quando, em pouco tempo, perdeu todos os seus bens (casa, fazenda, gado), e, inclusive, a própria família, Jó 1-1-15.
No entanto, diante de todas as catástrofes ambientais, materiais e espirituais, ainda teve força para exclamar: ¨Porque eu sei que o meu redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra¨, Jó 19: 25. Ao final, Jó recebeu em dobro tudo o que havia perdido, 42: 10-17. Alegrar-se na esperança é ter a certeza de que a luta e o fracasso não são o fim, mas o começo de uma nova etapa.
Certa feita, perguntaram a Henry Ford: o que é um fracasso? Com voz lúcida e segura, respondeu: “um fracasso é apenas a ocasião de começar uma nova tentativa com mais sabedoria”. Qualquer pessoa está sujeita a algum tipo de insucesso na vida, porque não raro as coisas acontecem ou são como não se imagina.
É nessa hora que a graça ou a bênção da resiliência se manifesta pela força dos olhos da esperança, afirmando que dias melhores virão e que o sinal verde vai aparecer no fim do túnel. Com Jesus, não há dúvidas de que somos mais do que vencedores (resilientes), porque o justo, ainda morrendo, tem esperança, Pv 14: 32 e Rm 8: 37.
Paciência nos desafios
Paciência é um dos segredos para vencer qualquer obstáculo. Todavia, há de se considerar que é, também, uma dificuldade de todos, pois a síndrome da pressa, que é o mal do século, tem roubado do ser humano esta bênção. Quando o apóstolo diz que precisamos ser pacientes na tribulação, pode-se dizer que a capacidade de alguém dar a volta por cima a uma situação constrangedora vai exigir da pessoa uma personalidade firme e pacienciosa.
O apóstolo Tiago, ao exortar sobre a paciência, usa a figura do lavrador para ilustrar a importância desta virtude: ¨Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e últimas chuvas¨, 5: 7. Então, se o objetivo de quem busca se restabelecer de alguma situação adversa é a retomada de novas iniciativas, é preciso fortalecer o coração com a paciência, v. 8.
Apesar de tudo que ocorreu em sua vida e família, Jó conseguiu voltar ao primeiro estado ou à normalidade do dia-a-dia, porque foi paciente na tribulação: ¨Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu…¨, Tg. 5: 11. Nada, em hipótese alguma, segundo os ensinamentos bíblicos, é impossível para quem persiste firme frente aos desafios. Há um ditado francês que diz que “a paciência é amarga, mas o seu fruto, doce”.
Portanto, as coisas difíceis podem levar muito tempo para ser alcançadas, pois o impossível pode demorar um pouco mais. Thomas Edson afirmou: “a nossa maior franqueza reside em que temos a tendência de abandonar. A maneira mais segura para conseguir atingir os objetivos é: tentar uma vez mais”. Como diz o refrão de uma das músicas do cantor Armando Filho: “Uma vez, outra vez, vai em frente, tenta um pouco mais. Quem sabe hoje aqui, angústias vão ter fim. E gozarás perfeita paz”. Tente novamente!
Persistência na devoção
Falar em oração é falar em devoção de vida com Deus. É relacionar-se com Deus no dia-a-dia. Não há como sobreviver no mundo espiritual sem a prática do princípio da oração. Na parábola do juiz iníquo, em Lucas 18: 1-11, Jesus deixou bem claro que para a oração se tornar um discurso convincente diante Deus, é preciso orar sempre (perseverar) sem nunca esmorecer, v. 1.
Para isto, seria extremamente necessário um padrão equilibrado na vida de devoção (oração) a Deus, pois Paulo afirma este conceito teológico: “…perseverai em oração”. A oração é a mola mestra deste processo. Uma pessoa movida pela fé e oração é impulsionada a tomar iniciativas, adquirindo, assim, uma postura de coragem e motivação frente à luta.
Ana, serva fiel do Deus altíssimo, para vencer a multidão de seus cuidados e o desgosto que amargurava a sua alma, e que abatia profundamente o seu semblante, deixando-o totalmente triste, 1Sm 1: 16, 18 e 19, só conseguiu dar a volta por cima e chegar ao estado normal de mãe (pois era estéril e Deus lhe deu um filho), porque persistiu na comunhão e serviço a Deus: “…perseverando ela em orar perante o Senhor”, 1Sm 1: 11.
A verdadeira devoção a Deus consiste numa constante batalha, porque “os vencedores das batalhas da vida são homens perseverantes que, sem se julgaram gênios, convenceram-se de que só pela perseverança no esforço podem chegar ao almejado fim”, (Emerson, 1803-1882). Por isso, quem desiste da batalha jamais faz história, mas quem persevera escreve a história. Seja, portanto, autor de sua própria história.
Para concluir
Desafio você a refletir sobre isto: não desistir nunca, ou seja, “quando as coisas derem errado como, às vezes, acontece; quando a estrada na qual você caminha com dificuldade parece íngreme demais; quando os fundos estão baixos e as dívidas altas, e você quer sorrir, mas tem de suspirar; quando o cuidado o pressiona um pouco para baixo, descanse, se precisar, mas não desista, pois a vida é esquisita com suas idas e vindas.
Como cada um de nós, às vezes, aprende, e muitos fracassos ocorrem, quando se poderia ter vencido se tivesse resistido. O sucesso é apenas o fracasso virado ao avesso, a tinta preta das nuvens da dúvida. […] Portanto, aferre-se à luta quando receber o golpe mais duro. Quando as coisas parecerem piores é que você não deve, em hipótese alguma, desistir¨! (autor anônimo). Por tudo isso, seja sempre resiliente em seus projetos e empreendimentos!
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Fonte: Jornal Aleluia de outubro de 2003