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Retorno aos caminhos do Senhor – Outubro/2006

As reformas são necessárias
quando algo já não atende às finalidades
presentes em sua origem. Muitas vezes precisamos
reformular nossa vida material, emocional,
espiritual, nossos pensamentos e nossa visão
de mundo, Rm 12: 2. A Bíblia fala
de várias reformas na vida do povo
de Deus, Jr 31: 33; Ez 36: 26; 2Re 22.

Neste texto vamos expor as causas da Reforma
Religiosa do Séc. XVI e conhecer os principais reformadores.

A reforma redescobre o ensino bíblico

Nos dias do rei Josias, após longos anos de reinado de homens perversos, a nação se encontrava mergulhada na idolatria e completamente afastada de Deus. A ruína já estava predita. A solução foi uma profunda reforma. Altares pagãos foram derrubados, o templo e o culto foram reparados e até ossos de sacerdotes pagãos foram queimados. É importante ressaltar que tanto essa como toda reforma espiritual precisa ser motivada pelo redescobrimento da Palavra e ensino bíblico.

Foi o que aconteceu no século XVI. Durante um longo período de trevas espirituais, a igreja havia se afastado da Bíblia e se contaminado com práticas pagãs. A imoralidade tomava conta de seus líderes. A igreja que coroou reis e imperadores já não conseguia satisfazer às ansiedades da alma humana.

Ao longo da Idade Média, a igreja havia perdido sua identidade. Preocupada com luxo e bens materiais, vendia cargos eclesiásticos a quem pudesse pagar (prática chamada “simonia”, que deu origem a ingressos de sacerdotes que mal sabiam celebrar uma missa), vendia o perdão dos pecados e o direito à salvação (as indulgências).

Mas as almas continuavam clamando e perecendo. As cerimônias religiosas eram celebradas numa língua desconhecida da maioria dos fiéis. Poucos conheciam a Bíblia, inclusive sacerdotes. Ocorria o que profetizou Jeremias: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos”, Jr 8: 20; e o que Jesus constatou: ovelhas desgarradas procuravam quem as alimentasse, Mt 9:36; Tt 3:3; 1Pe 2:25.

A reforma produz muitos questionamentos

Deus, que jamais abandona os seus (Is 40:11; 49:15), levantou homens para reverter esse quadro sinistro. No século XII, os valdenses já questionaram a autoridade eclesiástica, o purgatório e as indulgências. Os cátaros ou albigenses defenderam, nos séculos XII e XIII, a necessidade de santificação. Os petrobrussianos rejeitavam a missa e defendiam o casamento dos padres.

No século XIV, na Inglaterra, John Wycliffe defendeu a secularização dos bens eclesiásticos, o fortalecimento do poder temporal do rei e a negação da presença corpórea de Cristo na eucaristia. Essas ideias influenciaram o reformador tcheco João Huss e seus seguidores no território da Boêmia. Entre as vozes protestantes estava a do monge dominicano Girolamo Savanarola, o qual, a mando do papa, foi preso, torturado e enforcado.

O movimento religioso iniciado na Alemanha, no séc. XVI, teve mais êxito porque causou alteração religiosa com desdobramentos econômicos, políticos e sociais em todo ocidente. No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito em seus comandos. O homem renascentista, cada vez mais crítico, fazia oposição aos preceitos da Igreja. A ideia de um estado universal foi cedendo lugar ao conceito de nação-estado.

Com a formação das cidades, a classe média forte (a burguesia comercial) estava inconformada com os clérigos católicos que condenavam suas atividades. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. As descobertas de novas terras por Colombo e Cabral acentuaram essas mudanças. Os fundamentos do velho mundo estavam ruindo.

A reforma levanta homens de Deus

A faísca veio em 1517 quando Tetzel, um padre dominicano, pregava as indulgências com grande exibicionismo: dizia que cada vez que caia uma moeda na bolsa do frade, uma alma saía do purgatório. Diante disso, Lutero resolveu protestar, fixando na porta da Igreja de Wittenberg suas famosas 95 teses que criticavam vários pontos da doutrina católica. A resposta do papa Leão X veio na bula “Exsurge Domine”, ameaçando Lutero de excomunhão. Mas já era tarde demais, pois suas teses já haviam sido distribuídas por toda a Alemanha.

Lutero queimou a bula papal em praça pública e recusou-se a comparecer à dieta de Worms para retratar-se. Em 1529, na dieta de Spira, os cristãos reformistas foram apelidados pela primeira vez de “protestantes”. Nessa época, os ideais da reforma já estavam estourando em diversas partes como na Suíça (Zurique), França e nos Países Baixos. Em todos esses países houve perseguição aos reformadores e aos novos protestantes. Intensificou-se ainda mais a represália com a chamada “Contrarreforma”, promovida pelo catolicismo.

Seguiram-se cem anos de guerras religiosas dos reis católicos contra os protestantes. Mas a reforma prosperou, pois não era obra de homem, mas de Deus! Igrejas protestantes foram fundadas em todas as partes do mundo. O espírito liberal (princípio protestante), somado ao vigor da incipiente fé evangélica, fez com que o Cristianismo sofresse “reformas dentro da Reforma”, produzindo novos idealizadores do movimento. Os principais reformadores foram:

Martinho Lutero – Nasceu em Eisleben, em 1483, numa família de camponeses. Foi ordenado sacerdote em 1507, entrando na ordem agostiniana. Doutor em Ciências, Filosofia e Teologia, mestre em artes, lecionou em Wittenberg. Sistematizou a doutrina da justificação pela fé e reivindicou a liberdade de interpretar a Bíblia. Seu pensamento reformou o sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna. A ideia da escola pública para todos, organizada em três grandes ciclos (fundamental, médio e superior), nasce de seu projeto educacional. Deu origem ao conceito de utilidade social da educação e escreveu que “A maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos”.

Philipp Melanchthon (1497-1560), o “preceptor da Alemanha”, durante o período em que Lutero estava impedido de se manifestar publicamente foi o porta-voz da causa reformista e um dos encarregados de reorganizar as igrejas dos principados que haviam aderido ao luteranismo. Esse trabalho resultou no projeto de criação de um sistema de escolas públicas, adotado pelo estado da Saxônia e, depois, copiado em quase toda a Alemanha. Melanchthon e Lutero defendiam a educação também para as meninas.

Huldreich Zwinglio – De família de fazendeiros, nasceu em 1484, em Wildhaus. Foi sacerdote católico. Recebeu o grau de bacharel em artes, estudando nas Universidades de Viena e Basileia. Por volta de 1519, já sob a influência dos escritos de Erasmo e Lutero, começou a pregar em Zurique contra certos abusos da Igreja Católica e, logo em seguida, a deixou, convertendo-se.

João Calvino – Nasceu em 1509 na cidade francesa de Noyon, na Picardia. Em 1523, em Paris, estudou latim, humanidades, e teologia. Em 1528, iniciou seus estudos jurídicos e a língua grega. Converteu-se à fé evangélica por volta de 1533 e teve de fugir por colaborar com a reforma. Em 1536 publicou a primeira edição da sua grande obra: “As Institutas” ou “Tratado da Religião Cristã”. Em Estrasburgo, produziu uma apologia da fé reformada entre outras obras. Casou-se com a viúva Idelette de Bure. Em 1541, em Genebra, assumiu o pastorado da igreja reformada e escreveu para ela as célebres “Ordenanças Eclesiásticas”. Tornou-se o sistematizador da teologia protestante e criador presbiterianismo.

João Knox (1515-72) – Padre escocês que começou a pregar ideias da Reforma em 1540. Foi preso em 1547 pelo exército francês e mandado para a França. Passou por Genebra onde absorveu de modo completo a doutrina de Calvino. Em 1559 voltou à Escócia para liderar um movimento de reforma nacional.

Concluindo, toda vez que o Cristianismo se afastou dos princípios básicos da fé, Deus levantou pessoas para reformar a igreja. Eles buscaram a Deus em oração e leitura da Bíblia. O resultado foi o retorno aos caminhos do Senhor. Hoje, mais do nunca, precisamos reavaliar nossas vidas e reformá-las a partir da Bíblia. Você está sendo desafiado a isso.

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Artigo publicado no Jornal Aleluia de outubro de 2006

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