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A dinâmica da cristologia integral na oração sacerdotal de Jesus – Junho/2017

Uma análise bíblico-pastoral da oração
de despedida de Jesus, em João 17: 1-26,
alusiva ao Dia do Pastor

Prega-se muito nos púlpitos das igrejas sobre o tema Missão Integral ou Missão Holística. Ou seja, a missão que se preocupa com o ser humano por completo: corpo, alma e espírito. Segundo o missiólogo René Padilla: “A igreja que se compromete com a missão integral entende que seu propósito não é chegar a ser grande, rica ou politicamente influente, mas sim encarnar os valores do reino de Deus e manifestar o amor e a justiça, tanto em âmbito pessoal como em âmbito comunitário”.

Apesar do termo “integral” não configurar na Bíblia, ele está amplamente presente em diversos conceitos teológicos, inclusive na Cristologia, parte da teologia que estuda a natureza de Cristo. Então, o que seria Cristologia Integral nesta reflexão? A associação do termo “integral” à Cristologia assume um sentido de completude, considerando que Jesus intercede irrestritamente por seus discípulos, que haveriam de enfrentar o desafio de fazê-lo conhecido neste mundo (v. 23).

A dinâmica da Cristologia Integral na oração Sacerdotal de Jesus leva em conta todas as dimensões da trajetória ministerial de seus discípulos neste mundo, que se inicia com a conversão aos seus ensinos e doutrina e termina com a promessa da vida eterna com Jesus. Isso é maravilhoso porque, enquanto estivermos nesta terra, podemos estar certos de que jamais seremos desamparados por ele (Jo 16:33).

Jesus Cristo, o filho do Deus, veio a este mundo para exercer o tríplice ofício: rei, profeta e sacerdote. Isso se aplica tanto ao seu estado de humilhação como de exaltação. Como Rei dos reis e Senhor dos senhores, ele governa o mundo e protege o seu povo do maligno. Como Profeta, nos revela a vontade e a pessoa do Deus todo-poderoso. E como Sacerdote eterno, ofereceu a sua própria vida em sacrifício e está à destra de Deus intercedendo pela igreja na terra.

Na oração sacerdotal (João 17:1-26), antes de sua partida deste mundo, Jesus ora em favor dos seus discípulos e daqueles que haveriam de crer nele. O que está em destaque nesse texto é o seu ofício sacerdotal: ele se coloca diante do Pai e intercede por seus discípulos. É grande o efeito de sua intercessão, a fim de manter os seus escolhidos salvos do poder de Satanás e guardá-los de todo o mal. Diante disso, qual a dinâmica de sua oração nesse texto? O que ele pede ao Pai pelos discípulos e por nós?

NOSSA PROTEÇÃO

Essa é uma promessa maravilhosa. A certeza de sua proteção, após a sua morte, ressurreição e assunção aos céus: ”Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (v. 15). Jesus está demonstrando com isso total interesse e preocupação, se assim podemos dizer, em nos ver protegidos de todo o poder maligno. A convicção da proteção divina foi o pedido de Moisés para continuar seu pastoreado no deserto: “Se a tua presença não for comigo, não nos faça subir deste lugar” (Êx 33:15).

O que vale a vida cristã sem a proteção de Jesus? Qual seria o seu sentido? Talvez nenhum, porque a presença de Jesus nos dá segurança em todos os sentidos. Por isso, podemos confiar totalmente nele, uma vez que é o nosso Sumo Sacerdote e que se coloca constantemente diante do Pai celestial, pelo seu povo. Neste mundo vil e de tantas injustiças, o que todos queremos e precisamos é ser protegidos. Não há dúvidas de que o ministério pastoral sem o cuidado de Jesus não compensaria.

NOSSA SANTIFICAÇÃO

Além da proteção, Jesus pediu ao Pai que santificasse seus discípulos na verdade da sua palavra: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (v. 17). Não temos dúvida de que a vivência da Palavra de Deus tem sido o efeito purificador da nossa mente e coração. Ler e aplicar diariamente os ensinos da Palavra em nossas vidas, para que tenhamos uma vida pura e santa diante de Deus e dos homens é extremamente essencial. Sem santificação ninguém poderá ver o Senhor (Hb 12:14).

A dinâmica da Cristologia Integral nessa oração passa pelo crivo da santificação, que sempre foi o termômetro de Deus para o sucesso ministerial. Quer dizer, essa prerrogativa bíblica foi, também, uma exigência divina ao tempo do Antigo Testamento: “Pois eu sou o Senhor, o vosso Deus; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11:44). Portanto, a súplica de Jesus pela santidade de seus discípulos é, simplesmente, uma reafirmação daquilo que Deus sempre quis e desejou de seus servos no AT.

NOSSA MISSÃO

Jesus não apenas nos deu a incumbência de pregarmos o evangelho a toda criatura (Mc 16:15), mas intercedeu por esse propósito divino: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (v. 18). Com isso, temos o compromisso de sermos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Precisamos cumprir efetivamente a missão de pregar o evangelho sem tentar escapar do mundo nem evitar os relacionamentos com os não cristãos, pois fomos enviados para levar a salvação aos perdidos.

É muito interessante a sequência dos argumentos na oração de Jesus. Primeiro, suplica por nossa proteção. Depois, roga ao Pai pela santificação dos seus discípulos. Com isso, diz ao Pai que eles estão preparados para ser enviados à Seara (Mt 9:37,38). Portanto, cumprir o “ide” e fazer discípulos de todas as nações (etnias), estando preparados e tendo certeza de sua presença, será sempre uma tarefa frutífera e consolidada: “E certamente estou convosco todos os dias, até consumação do século” (Mt 28:20).

NOSSA UNIDADE

Unidade é a máxima do sucesso de qualquer segmento, especialmente da vida cristã. Sabendo dessa verdade, Jesus intercede pela unidade de seu povo: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós” (v. 21). Ele deseja e quer a nossa unidade para que o mundo creia nele. Temos de priorizar a unidade na igreja, para que ela seja uma testemunha poderosa da realidade do amor de Deus. A falta desse ingrediente, principalmente na liderança, prejudica a comunhão e o trabalho de evangelização.

A unidade precisa começar pela cabeça, ou seja, pela liderança. Líderes unidos, liderados unidos; líderes desunidos, liderados desunidos. Infelizmente será sempre assim, pois o reflexo de uma liderança unida, ainda que as diferenças existam, o que é natural em qualquer engrenagem, será sempre contemplada com os frutos dos alvos estabelecidos. Não nos esqueçamos da figura do corpo usada por Paulo para ilustrar a unidade da igreja: “Pois há muitos membros, mas um só corpo” (1Co 12:20).

NOSSA ETERNIDADE

Por fim, Jesus faz o seguinte pedido em sua oração: ”Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste” (v. 24). Na verdade, ele está nos levando a pensar nos propósitos de Deus para com o homem, desde o jardim do Éden. Deus nos criou para vivermos eternamente nesse lugar especial. No entanto, o pecado roubou do ser humano essa prerrogativa, levando-a ao sofrimento e destruição total (Gn 3). Mas Jesus, um pouco antes de morrer na cruz do Calvário, deixa claro que quer os salvos juntos dele.

A vida além-túmulo é a esperança dos salvos. Paulo diz que “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15:19). Podemos ter a firme convicção de que Jesus quer nos arrebatar e nos levar para estar com ele em sua morada celestial (1Ts 4:16,17). Alegremo-nos e nos regozijemos por tão grande privilégio que há de acontecer em breve. Como é maravilhoso sabermos que Jesus, nosso grande intercessor junto ao Pai Celestial, orou por nossa proteção, santidade, missão, unidade e eternidade.

PARA REFLETIR!

Não estamos sós! No inverno de 1864, nos EUA, uma velhinha cristã dirigiu-se à Casa Branca para falar com Abraham Lincoln. Segurou a mão do grande presidente e apertou-a fortemente. Queria contar-lhe um segredo: “Amigo Abraham, você não está só, estamos todos orando por você. Você não pode fraquejar, pois o coração de todo o povo está com você. O Senhor mesmo foi que lhe colocou neste lugar. Você é amado pelo povo como nunca antes outro homem o foi. Deus está com você e o povo atrás de você!”

Nós, ministros de Deus, temos a certeza de que não estarmos sós (Is 43:1-5 e Jo 14:18).

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