A soberania divina e o dilema da prematuridade da vida-morte do cristão

“E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito” (Romanos 8:28).

Laís Eler Ilto (14), que no hebraico significa leão, filha de Priscila e Fábio, neta do Pr. Gilberto Eller Filho, “uma lenda goioerense”, era uma menina sadia, meiga, amiga, submissa e crente em Jesus. No dia 30 de julho, após sua tradicional devocional, foi dormir, normalmente. No dia seguinte, acordou bem. Sua mãe, como era de costume, foi ao quarto da filha para vê-la. Instantes depois, retirou-se e logo ouviu alguns gritos. Laís sentiu uma forte dor de cabeça e passou a vomitar. Era o começo de uma trajetória dolorosa. No hospital, diagnosticada com aneurisma cerebral, precisou ser entubada e levada às pressas, de helicóptero, para a UTI de um hospital em Umuarama, PR.

Foi tudo muito rápido! Foi submetida a uma cirurgia de risco. No entanto, apesar dos intensos clamores e orações, aprouve ao Senhor recolhê-la, na manhã do dia 1º de agosto. Agora, a pergunta que se faz entre as pessoas que acompanharam esse fato e a conheceram é: Por que uma jovem-adolescente cheia de vida e com tantos sonhos morreu tão nova assim? Sua morte foi um evento prematuro? Deus não poderia curá-la e, com isso, glorificar seu santo nome? O texto de Paulo nos aponta alguns flashes de ensino que podem nos ajudar a conceber esse triste acontecimento.

Antes, porém, vale dizer que a história de Laís é uma das centenas e milhares desse tipo. A dela seria apenas a do momento, que tomamos como exemplo para extrairmos, a partir da teologia Paulina, de Romanos 8:28, algumas lições pedagógicas, que visam responder à temática da nossa conversa. Todavia, antes mesmo de qualquer comentário, não podemos ignorar o fato de que Deus conhece todas as coisas, visíveis e invisíveis, e que elas não existem por si próprias, mas foi tudo criado por Ele e para Ele, porque Ele é soberano e sabedor de todas as coisas (Colossenses 1:16).

NA VIDA CRISTÃ: NADA ACONTECE “POR ACASO” OU POR FATALIDADE

Quando Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, diz que todas as coisas, tanto positivas como negativas, cooperam para seu próprio bem, isso elimina qualquer possibilidade de casualidade. Isto porque é Deus quem permite ou impede que todas as coisas aconteçam no mundo (Gênesis 50:20; Jó 23:13; Provérbios 16:33). Se assim não fosse, nossa vida não teria sentido algum, até porque a Bíblia diz que Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17:28). Sim, a vida do cristão está na dependência de Deus, como escreveu Laís em seu diário: “Eu escolho ser dependente de Deus”.

Portanto, nada acontece por mera coincidência, sorte, sina ou destino na vida do salvo, porque ela é conduzida por Deus, que tem o controle em Suas mãos. Marta e Maria disseram a Jesus: “Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (João 11:21 e 32). Diga-se de passagem, a morte de Lázaro não estava condicionada ao “se” do acaso, mas ao propósito de Deus (v.45). O leitor percebe que esse “se” está sempre presente na sala dos nossos bate-papos? Lembre-se, porém, de que ele não interfere em nada nos desígnios divinos.

NA VIDA CRISTÃ: NADA ACONTECE FORA DO “TEMPO INDETERMINADO” DE DEUS

Pois bem, tudo que acontece com o cristão, em todas as dimensões da vida, coopera para seu próprio bem, desde que ele (cristão) ame (sirva) a Deus, diz o texto. Isso é impressionante, porque quem ama ao Senhor não anda desprovido de Seus cuidados (Lucas 15:4), e tudo acontece no tempo divino. Vale dizer que as estações do ano e a cronologia dos anos, meses, dias e horas sinalizam o tempo cronológico, com início e fim. Entretanto o tempo ou o kairós de Deus não depende desses fatores, porque pode ser visto como um momento indeterminado da plenitude do tempo e eternidade divina.

Por isso, nada na vida do crente acontece fora, nem antes, nem depois do kairós de Deus. Na cronologia humana, por exemplo, Laís morreu no dia 1º de agosto de 2024, mas no kairós de Deus ela faleceu em algum espaço de tempo de Sua plenitude e eternidade, ou seja, em um dia indeterminado. Por isso, Tiago diz que nossa vida é como um vapor que aparece por um pouco e logo se desvanece (4:14). Nesse processo dito por ele, não há contagem de anos, meses, dias e horas, porque Deus não vive preso no casulo do tempo.

NA VIDA CRISTÃ: NADA ACONTECE SEM A “BÊNÇÃO ABSOLUTA” DE DEUS

O texto se encerra dizendo que aquele que ama a Deus e sofre com as perdas, perseguições, doenças, mortes etc. receberá a bênção absoluta, segundo o propósito divino, que prevalece ante as nossas escolhas (Provérbios 19:21). Mas o que seria bênção absoluta, se bênção é bênção e não há, segundo as Escrituras, modalidades de bênçãos? Trata-se de uma leitura ou conceito próprio como forma de destaque ao salvo por Jesus, que receberá, como bênção absoluta, a coroa da vida eterna: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 3:10).

Uma infinidade de pessoas, desde os tempos bíblicos, choram seus mortos (Gênesis 23:2 e 50:1; 1 Samuel 25:1). No entanto, felizes são os mortos que, desde agora, morreram no Senhor e descansam de seus trabalhos, para que suas obras os sigam (Apocalipse 14:13). Aqui, portanto, está o ápice da bênção absoluta-completa do salvo em Cristo Jesus: ele (Laís) morará para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:14-17). Essa é nossa esperança! E como diz parte da letra de certo hino: “É melhor estar ali (céu) do que aqui (mundo) estar”. Maranata!

PARA REFLETIR!

Diz certo pensador que: “O passarinho não canta porque está feliz, mas o passarinho está feliz porque canta”. Pois bem, seria oportuno parafrasearmos esse enunciado como forma de conectar ou consolidar esse ensino aos fatos cotidianos da vida: O cristão (a Laís) não morre porque está feliz, mas o cristão (a Laís) está feliz porque morre, ou morreu, em Cristo Jesus. A morte do cristão-justo-salvo é lucro e preciosa aos olhos de seu Criador (Filipenses 1:21; Salmo 116:15).

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