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Características fundamentais da Lei do Senhor

Os dez mandamentos são centrais na cultura judaica. Eles expressam a totalidade da fé israelita. Sua fundamentalidade se aplica da mesma forma à Fé Cristã. Mas antes mesmo de procurar compreendê-los é necessário entender o contexto maior em que estão inseridos. E qual é este assunto senão: A Lei do Senhor? Assim, quero destacar cinco características fundamentais da Lei do Senhor. Aproveito para dizer que não há um texto singular que explicite todas elas. Somente todo o conteúdo bíblico pode fazê-lo.

A Lei do Senhor revela a vontade de Deus para a humanidade.

Usando uma linguagem familiar — compreensível — a nós cristãos, diria que a Lei do Senhor expõe o coração e a mente de Deus. Portanto, o próprio Criador estabeleceu que a Sua Lei deveria revelar o seu querer. Um dos significados dominantes para a palavra hebraica — o idioma predominante do Antigo Testamento — “lei” significa “instrução” . Logo, Deus orienta o ser humano através da Sua Lei. Cronologicamente, a Lei foi dada após a libertação do povo hebreu da escravidão egípcia, no tempo de Moisés. Contudo, o padrão de Deus requerido na Lei sempre esteve presente no mundo, antes mesmo da entrega dela. Deus nunca aprovou o que Caim fez com Abel. Seu caráter revelado na Lei se opôs decididamente ao povo de Babel. Nesse assunto os exemplos são inúmeros.

A Lei do Senhor foi outorgada e não promulgada. Ou seja, ela veio de Deus e não de Moisés, Arão ou de outros homens. Ela não é resultado de mentes brilhantes. Não foi um colegiado que a criou. Deus não buscou orientação com ninguém para revelá-la. Ele não consultou sábio algum para saber se a ética expressa nela é aceitável ou rígida demais. O Senhor simplesmente a tornou conhecida aos homens. Preciso dizer também que por vezes “Lei” representa todo o Antigo Testamento. Em outras, refere-se apenas ao Pentateuco — livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. E, por fim, pode tratar-se também, especificamente, dos “dez mandamentos” ou de leis, por assim dizer, soltas pela Escritura.

Uma segunda característica da Lei do Senhor é que ela tem faces diferentes. Há pelo menos três ângulos pelos quais podemos enxergá-la. Um deles é o cerimonial. Sacrifícios, ofertas, festas, pessoas específicas para servir em funções específicas, entre outros. Enfim, tudo aquilo que envolvia o culto israelita no Antigo Testamento diz respeito a essa característica cerimonial da Lei, que é algo fundamental. Toda a face cerimonial da Lei cumpriu-se em Cristo.

O fator civil é outra face da Lei. Nesse sentido, a Lei tinha a função de organizar a sociedade israelita. Lembre-se que Deus libertou a descendência de Abraão — povo hebreu – sem que existisse ainda o país de Israel. Foi por meio da Lei que Deus organizou Israel enquanto nação e povo. Deus deu-lhes juízes e ordenanças referentes à justiça, ao trato com os pobres etc. A Lei do Senhor foi para Israel aquilo que a Constituição Federal é para o Brasil. Israel foi um reino teocrático, isto é, um povo governado por Deus, diretamente. Não há laicidade — estado laico — em Israel, nos tempos bíblicos. A face civil não se aplica a nós. Não somos um país teocrático.

Uma terceira face da Lei é a moral. A Lei, como dito anteriormente, expressa a vontade de Deus. A ética da Lei provém de Deus. O que a Lei prescreve alcança a todo ser humano. As ordenanças da Lei são válidas para todos os tempos e lugares. O apontamento moral da Lei desconhece religião, espiritualidade e credo. “Não matar” cabe a qualquer pessoa. Não é preciso ser cristão para aprovar esse mandamento. Basta ser gente. Basta que se ame alguém para consentir com o mandamento.

A terceira característica fundante é concernente ao fato de que a Lei não foi dada para salvar. Ela não salva porque não pode salvar. Deus nunca pretendeu que a Lei pudesse salvar. Abraão foi salvo antes mesmo de Moisés — aquele que serviu como mediador entre o Doador da Lei e o povo que a recebeu — nascer. Na cronologia bíblica, Deus primeiro salva e só depois é que Ele revela Sua vontade na Lei. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, primeiro resgatou Israel do Egito. O povo foi visitado pelo Senhor. Só então, depois de salvá-los é que Deus explicitou nos mandamentos o Seu querer. Paulo afirma por diversas vezes que a Lei não tem poder para salvar. Se, por um lado, a Lei expõe o coração de Deus, por outro, ela expõe também o meu e o seu coração. Ela mostra a nossa tendência natural para desagradar a Deus. Tanto que os mandamentos aparecem em forma de negativas. “Não” isso. “Não” aquilo. Deus humaniza a pessoa pecadora por meio da Lei. Matar expressa o querer natural da pessoa entregue ao pecado. “Não matar” revela o querer de Deus. Em resumo, a Lei não pode salvar, porque salvar não é sua finalidade.

A Lei é também um instrumento utilizado por Deus para realizar e promover o bem e o que é bom.

Por meio das negativas, Deus refreia o mal. Ele diz “não” a toda a sede por maldade, desrespeito, irresponsabilidade e alienação que há no coração da humanidade — visíveis no cotidiano. Através do aspecto civil, Deus estabeleceu punições para os infratores da Lei. A Lei de Deus prescreve que a prática do mal redunda em mal ao transgressor. O homem não fica impedido de agir malignamente, mas ele sabe que se o fizer, terá consequências. Às vezes, a penalidade da Lei estabelece que é a vida do transgressor pela vida do agredido. Por meio da Lei Deus diz: “se você me desobedecer, arcará com os resultados!”

Além disso, a Lei também encoraja à prática do bem. Deus ordena na Lei o que é esperado da humanidade e também do Seu povo — Israel. Ele quer que toda pessoa tenha consciência do quanto é fundamental preservar o semelhante, o seu bem-estar e o que lhe pertence. Note que os mandamentos nos direciona sempre a agir de modo que o nosso próximo não seja prejudicado, por nós, em alguma questão específica: vida, casamento, posses… Por fim,

A Lei mostra a necessidade que temos de Cristo, como Salvador. 

A Lei mostra o querer de Deus, mas também mostra o que naturalmente nós queremos. Ela diz “não” aos nossos desejos pecaminosos. E instrui cada pessoa naquilo que é o padrão de Deus para a humanidade que Ele formou. Em síntese, o padrão da Lei não pode ser obedecido por ninguém, de forma integral. Se você obedeceu hoje ao que ela diz, certamente, amanhã você não o fará. Toda obediência é parcial. Nenhuma obediência é total — só a de Cristo. Descumprir um mandamento é pecar contra todos. O mesmo Deus que deu cada mandamento, fez todos eles. Não dá para mergulhar num rio e sair seco. É impossível satisfazer a Lei se “apenas” uma transgressão foi cometida. Pecamos no varejo e no atacado. O Deus que fez cada mandamento, fez todos eles. Na verdade, transgredir um mandamento é ir contra o padrão e o caráter de Deus expresso na Lei. Deus não tem mandamento predileto. Ferir a um é feri-Lo. Ferir a um é ferir a todos. Com isso, a Lei mostra a urgente necessidade que toda pessoa tem de ter Cristo como Salvador. Só Cristo pode fazer o que a Lei requer, instrui e prescreve.

Antes de pôr o decisivo ponto final neste texto, quero deixar duas considerações práticas para você: (1) Fuja de querer viver uma vida sem a Lei de Deus. Sem a Lei do Senhor, você não terá consciência do próximo. Sem ela, você não enxergará seus deveres em relação ao seu semelhante. Sem a Lei do Senhor, nenhum ser humano saberá qual é a dignidade com que você deverá ser tratado. Sem a Lei do Senhor, não haverá organização nem beleza; (2) Fuja igualmente de viver — e querer viver — uma vida legalista e moralista a partir da Lei do Senhor. Não queira obter salvação cumprindo a Lei do Senhor. Lembre-se: o padrão da Lei é impossível para você. Sua salvação é fruto da graça e do amor de Deus por você. Jamais você conquistará a Deus quando obedecer a Lei. O amor dEle por você independe à sua obediência à Lei dEle. Busque cumprir a Lei não para ser salvo, mas para honrar o Deus que salvou você. Se nela você tropeçar, agarre-se a Cristo! E mesmo cumprindo-a — ainda que parcialmente — continue agarrado a Cristo!

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